segunda-feira, 12 de setembro de 2011

AS REPÚBLICAS E A MONARQUIA - HENRIQUE BARRILARO RUAS












Tal
como os homens, também as nações precisam de viver habitualmente. Mas
nem todo o hábito é virtude. Há-os que são vícios. E, quando o vício é
colectivo, não há ninguém que não sofra com ele. Porque é da natureza
do indivíduo participar do bem comum, e também do mal comum, da
sociedade a que pertence.




A
República, em Portugal, começou por ser o contrário de um hábito.
Actos isolados, casos soltos: nada mais. Eram quase todos da matéria de
que se fazem os vícios. Mas, para serem vícios, faltava-lhes serem
habituais. Nenhum vício é episódico.




Mais
tarde, por acção alheia, a República deixou de ser em episódios.
Fez-se hábito. Por isso foi aplaudida. Aplaudiram-na os viciosos e os
virtuosos. Os primeiros porque viam enfim estabelecido, assente, de
algum modo indiscutível, o que antes não passara de tentativa fruste.
Os últimos, porque estavam ainda dominados pela ideia (deixada por
muitos séculos de Poder Real) de que habitual, em Política, é
necessariamente virtuoso.




Foi
assim que começou o culto da continuidade. Esse culto tem tomado as
formas mais aberrantes e mesquinhas. Nalguns casos, é apenas o culto do
contínuo (uma das fontes mais caudalosas da Burocracia nacional).




Mas
eis que o tempo entrou a fartar-se da continuidade no mal. E já vai
ensinando a indivíduos e grupos que não basta durar: é preciso durar
bem.




Por
causa da República-sistema, é a autentica república dos Portugueses
que perde o norte do Bem Comum. As competências, deslocadas da sua
função natural, tornam-se incompetências. Os homens gastam-se em
tarefas sem sentido. As instituições definham. O humano desejo de
participar faz-se maldição. O que podia ser belo e fecundo rito de
universalização do individual desce ao nível da farsa ou da paródia. As
gerações que deviam dar à Pátria viço novo e uma inquietude
transfiguradora, quase não trazem mais do que a dúvida e a negação. E
muitos dos raros que deixam crescer na alma a sede de heroísmo, vão
queimar-se em aventuras sem beleza. São estes os frutos da ideologia
republicana.




Porque,
na crise aberta do mundo de hoje, na fermentação e gestação do mundo
de amanhã, não está presente a integral e viva portugalidade, mas a
rigidez de um esquema, uma convenção, uma fórmula jurídica.




Toda
a Nação Portuguesa fermenta e lateja, na promessa e na exigência de
uma vida nova. A todo esse murmurar profundo e crescente, a República
só oferece, ou a rigidez imutável, ou a própria mobilidade como ideal.





É
sobretudo para as novas gerações que a Monarquia há-de surgir
identificada com a Esperança. Esperança de dignidade e justiça;
esperança de paz. Esperança de uma vida que seja autêntico e fecundo
conviver. Esperança de uma alegria nova, em que o corpo e a alma
comunguem. Esperança de vitória do natural sobre o absurdo, do normal
sobre o obrigatório. Esperança no abraço do Homem com a Terra, no
acordo dos homens uns com os outros, na realização da Pessoa para além
de todos os planos do colectivo.





(1963)



Fonte: Resistência Popular Realista



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