segunda-feira, 6 de junho de 2011

ANDRÉ VILLAS-BOAS COM RAÍZES EM CAMINHA

André Villas-Boas (n.1977), treinador do Futebol Clube do Porto, tem uma muito particular ligação a Caminha, já que é bisneto de José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas, 1º Visconde de Guilhomil, que foi no final do século XIX e princípio do século XX o chefe no concelho do Partido Progressista, uma das duas grandes forças partidárias do segundo rotativismo monárquico. 
 De seu nome completo, Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas, descende do filho mais novo do Visconde – o seu avô Gonçalo Manuel Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto e Sousa de Villas-Boas – e tem pois muitos parentes que mantêm fortes ligações a Caminha como acontece, entre outros, com os actuais proprietários da Casa de Esteiró (a casa do seu bisavô titular) e da Casa dos Pittas.

A este propósito, o Caminh@2000 solicitou a Paulo Torres Bento, professor e historiador, um breve registo biográfico do ilustre antepassado de André Villas-Boas

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José Gerardo de Villas-Boas,
Visconde de Guilhomil – uma nota biográfica
Paulo Torres Bento
José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas nasceu em Braga em 1863 e era filho segundo do barão de Paçô Vieira. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1885 e seguiu depois a magistratura, tendo exercido logo no início o cargo de procurador régio em Caminha. Casou em 1887 com Mariana Teodora Correia Moreira de Lima Barreto, época em que a família adquiriu ao visconde de Negrelos a Casa de Esteiró (Vilarelho) que outrora teria sido pavilhão de caça da família Pitta. Construída no século XVIII e rodeada de um frondoso parque – onde estão hoje duas das três árvores classificadas do concelho – era então conhecida por “Vila Teodora”, lugar de reuniões e conspirações políticas, a partir da qual Villas-Boas, como chefe político local do Partido Progressista, fazia valer a sua influência e procurava colocar protegidos e apaniguados na presidência da Câmara de Caminha e nos demais lugares públicos da região.

O título de Visconde de Guilhomil foi-lhe concedido pelo rei D.Carlos em 1890, na mesma ocasião em que, respeitando o equilíbrio partidário, o monarca outorgou a António Joaquim de Sousa Rego (1821-1899), por mais de uma vez presidente da edilidade caminhense e figura tutelar do Partido Regenerador local, o título de Visconde de Sousa Rego.

José Gerardo seguiria entretanto a sua carreira de magistrado, tendo servido como juiz em diversas comarcas do país até ser nomeado ajudante do procurador régio junto da relação do Porto – cidade onde tinha a sua residência habitual, na Foz do Douro. Em 1898, assume o lugar de secretário particular do Ministro da Justiça e seu próximo amigo, José Maria de Alpoim. A esta influente posição no governo progressista de José Luciano de Castro, logo corresponde a municipalidade caminhense da altura que, depois de algumas trocas toponímicas, atribuiu à Rua de S.João o nome de Rua Visconde de Guilhomil – assim permaneceria até 1919.

Confirmando a ascensão política, Villas-Boas é eleito deputado nas eleições de 1899 e em 1903, como presidente da comissão executiva da Exposição Agrícola do Porto, recebe no malogrado Palácio de Cristal a visita de D.Carlos. Reeleito deputado em 1905, pouco depois, na sequência da chamada “questão dos tabacos”, acompanha José Maria de Alpoim na dissidência do partido progressista, nas vésperas da ditadura de João Franco e quando o regime monárquico, acossado pelos republicanos, caminha para o seu fim.

Antes disso, porém, Guilhomil contribui decisivamente para uma mudança política em Caminha que se viria a revelar premonitória do que logo sucederia no país e que, à escala local, acabou por corresponder ao papel desempenhado a nível nacional por José Maria de Alpoim. Em 1908, quando das eleições municipais, é na “Vila Teodora” que se forja a aliança entre os dissidentes alpoinistas e os progressistas oficiais – cujo chefe político distrital era o vianense Manuel Espregueira – que leva à cadeira da presidência da Câmara Municipal de Caminha o independente Damião José Lourenço Júnior, suspeito de simpatias republicanas – confirmadas depois do 5 de Outubro quando se manteve no cargo aderindo entusiasticamente ao novo regime.

O mesmo não sucedeu com José Gerardo de Villas-Boas, monárquico de fortes convicções. Abandona a vida pública e, de acordo com a memória familiar, a desilusão política terá mesmo contribuído para a sua prematura morte em 1913, aos 50 anos de idade, três anos somente após a proclamação da República. Com o seu falecimento, o título passou para o seu filho mais velho, José Rui Vieira Coelho Pinto de Sousa Peixoto, o 2º e último Visconde de Guilhomil, que se consorciaria em 1914 com Maria José de Menezes Pitta e Castro, casamento celebrado no oratório particular da Casa dos Pittas, na Rua da Corredoura, do qual resultaria uma única filha, razão da extinção do título.

Fontes consultadas: jornais Notícias de Caminha, Jornal Caminhense e O Caminhense (edições de 1907 a 1913); Actas da Câmara Municipal de Caminha (período abrangido); José Manuel Villas-Boas, Caderno de Memórias, 2003, Lisboa: Temas e Debates; Filipe Figueiredo, José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas, In Maria Filomena Mónica (coord.), Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), Vol.III, 2006, Lisboa: ICS/AR; página Web www.geneall.net.
Publicado (pelo portista) Rui Paiva Monteiro em "Causa Monárquica"

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