sábado, 14 de maio de 2011

BLASFÉMIAS: VEMOS, OUVIMOS E LEMOS. NÃO PODEMOS IGNORAR



A média do crescimento económico é, em Portugal, a pior dos últimos 90 anos. A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos. A dívida externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país declarou uma bancarrota parcial em 1892). O desemprego é o maior dos últimos 80 anos. Voltámos à divergência económica com a Europa, após décadas de convergência. Vivemos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos. E temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos.

Pois é. As verdades são duras como pedras. E antes de passarmos a um novo capítulo nas nossas vidas, por mais piedosos que sejam as recomendações para não procurar culpados, a verdade é que há responsáveis por termos chegado até aqui e políticas erradas que não devem – não podem – ser repetidas. É por isso que é muito útil ler o mais recente livro de Álvaro Santos Pereira, Portugal na Hora da Verdade. Economista “exilado” na Universidade de Vancouver, no Canadá, português optimista quanto baste – como demonstram as suas obras anteriores, O Medo do Insucesso Nacional e Os Mitos da Economia Portuguesa – arriscou-se a traçar um panorama global da nossa situação actual. As frases com que iniciámos este texto são dele. Os gráficos que o ilustram foram por ele construídos. A evidência que reuniu ao longo de quase 600 páginas é esmagadora.

Pode-se não concordar com todas as soluções que Álvaro Santos Pereira propõe para “vencer a crise nacional” – mas se este livro tem, neste exacto momento, uma virtude, é que ninguém poderá dizer que não sabia. Não teremos todos a mesma culpa, mas somos todos eleitores e há realidades que não podemos ignorar.

Público, 6 de Maio de 2011

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