NÃO VEJO, NÃO LEIO, NÃO OUÇO: NÃO VOTAR É O REMÉDIO
Dieta rigorosa, desintoxicação radical, absoluta privação de contacto visual e auditivo com os candidatos ao sólio presidencial, o tal que foi usurpado pelas bombas e revólveres, jamais teve a elementar atenção de interpelar os portugueses e assim ficou, absoluto, impune, ilegal e ilegítimo por décadas e décadas. Não ceder à tentação de participar, não conceder a dúvida do mal menor, não comparar nem tomar partido por nenhum dos artistas em palco. O melhor voto é o não voto. O melhor presidente da República é o Rei, a melhor votação para a chefia do Estado aquela que prescinde de eleições, de máquinas partidárias, de confetis e out-door's, mas aquela que se realiza geração a geração, com o concurso das gerações que passaram e das gerações que virão e reafirma o pacto da vontade popular e da identidade nacional que fizeram o Estado Português.
Os candidatos que se candidatem, os presidentes que presidam, mas que o façam sabendo que há portugueses, muitos portugueses, que neles não vêem o árbitro equidistante, o servidor da causa pública, o orgão de soberania independente. Votar é caucionar, colaborar, transigir com um sofisma, com uma impostura e com um insulto aos portugueses. Eu, não voto e como não voto, não sei quantas caras, caretas, carantonhas e gárgulas se apresentam a sufrágio. Ficar em casa, abrir um bom livro, ouvir música, estar com a família vale mil chapeladas da lotaria dita republicana. Como acreditamos na República - ou seja, na política - e como só há Política quanto a totalidade da Cidade se revê nas instituições, recusamos participar numa fraude.
Passei há dias pela sede de candidatura do Professor Cavaco. A foto que acima reproduzo é sintomática da intensa vida republicana. Não vive, existe e nem pede desculpa aos portugueses. Um jazigo; eis onde temos vivido nestes cem anos de república sem República.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Combustões
Os candidatos que se candidatem, os presidentes que presidam, mas que o façam sabendo que há portugueses, muitos portugueses, que neles não vêem o árbitro equidistante, o servidor da causa pública, o orgão de soberania independente. Votar é caucionar, colaborar, transigir com um sofisma, com uma impostura e com um insulto aos portugueses. Eu, não voto e como não voto, não sei quantas caras, caretas, carantonhas e gárgulas se apresentam a sufrágio. Ficar em casa, abrir um bom livro, ouvir música, estar com a família vale mil chapeladas da lotaria dita republicana. Como acreditamos na República - ou seja, na política - e como só há Política quanto a totalidade da Cidade se revê nas instituições, recusamos participar numa fraude.
Passei há dias pela sede de candidatura do Professor Cavaco. A foto que acima reproduzo é sintomática da intensa vida republicana. Não vive, existe e nem pede desculpa aos portugueses. Um jazigo; eis onde temos vivido nestes cem anos de república sem República.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Combustões
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