Reyno de Portugal

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ENTREVISTA DE S.A.R. O SENHOR DOM DUARTE À REVISTA "MAIS ALENTEJO" EM JUNHO DE 2008

Seria um BOM REI

DUARTE PIO JOÃO MIGUEL GABRIEL RAFAEL DE BRAGANCA - POSSIVELMENTE, O LEITOR NÃO SABE, MAS É ESSE O NOME COMPLETO DO CHEFE DA CASA REAL PORTUGUESA, QUE TODOS CONHECEMOS "SIMPLESMENTE" POR DOM DUARTE DE BRAGANCA. CONSIDERADO AQUILO A QUE OS MAIS FEROZES REPUBLICANOS, IRÓNICAMENTE, DIZEM SER UMA ESPECIE DE "REI SEM TRONO", O PROTAGONISTA DESTA EDIÇÃO DA MAIS ALENTEJO, POR OUTRO LADO TEM UM NOTÓRIO CAPITAL DE SIMPATIA JUNTO DO POVO PORTUGUES. REALIDADE A QUE TALVEZ NÃO SEJA ALHEIA A SIMPLICIDADE - E TAMBÉM A FORMA DESEMPOEIRADA E FRONTAL - A QUE NOS HABITUOU AO LONGO DA SUA VIDA. CASADO COM DONA ISABEL DE HERÉDIA.TRÊS FILHOS, NASCEU EM BERNA (SUÍCA, ONDE A FAMÍLIA SE ENCONTRAVA ENTÃO EXILADA), NA EMBAIXADA DE PORTUGAL, PORTANTO.EM TERRITÓRIO PORTUGUES A 15 DE MAIO DE 1945. APÓS O REGRESSO A PORTUGAL DA FAMÍLIA REAL, NOS ANOS 50 DO SÉCULO XX, ESTUDOU EM SANTO TIRSO E, MAIS TARDE, INGRESSOU NO COLÉGIO MILITAR, EM LISBOA. DOM DUARTE DE BRAGANÇA CUMPRIU O SERVIÇO MILITAR EM ANGOLA, COMO TENENTE PILOTO AVIADOR DA FORCA AÉREA (1968/71). EM 1972, AINDA EM TERRAS ANGOLANAS, ORGANIZOU UM GRUPO INDEPENDENTE DE CANDIDATOS À ASSEMBLEIA NACIONAL, OUSADIA QUE LHE CUSTOU A EXPULSÃO DAQUELE ANTIGO TERRITÓRIO PORTUGUES. A LIGAÇÃO A ANGOLA- BEM COMO AOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA-, ESSA, PERMANECEU VIVA ATÉ AOS DIAS DE HOJE, CONFORME PODE COMPROVAR-SE PELOS VÁRIOS PROJECTOS QUE TEM DINAMIZADO. TIMOR É IGUALMENTE UMA PAIXÃO ANTIGA TENDO SIDO, ALIAS, UMA DAS PRIMEIRAS VOZES A LEVANTAR-SE, EM PORTUGAL, CONTRA A OCUPAÇÃO E AS ATROCIDADES OCORRIDAS NO TERRITÓRIO, NUMA ALTURA EM QUE A CAUSA TIMORENSE ERA ASSUNTO TABU. DOM DUARTE DE BRAGANCA, EM CONVERSA QUE MANTEVE COM A NOSSA REVISTA, ABORDOU AS VANTAGENS QUE, NA SUA OPINIÃO, PORTUGAL TERIA A GANHAR, CASO OS PORTUGUESES PUDESSEM TROCAR A REPÚBLICA PELA MONARQUIA, ALÉM DE RESPONDER AS HABITUAIS PERGUNTAS DIRIGIDAS A TODAS AS PERSONALIDADES ENTREVISTADAS NESTA RUBRICA.

(14 de Junho de 2008)
entrevista: António Sancho
Fotos: Maria Cascais

Quase 100 anos após a implantação da República, que, naturalmente, coincidiu com o fim da monarquia, em Portugal, ainda faz sentido ser-se monárquico e pretender o regresso da monarquia?

Faz sentido comparar o progresso dos países que têm reis e rainhas, na Europa de hoje, com o nosso atraso e compreendermos até que ponto é que esse atraso é devido a um regime republicano. Faz todo o sentido fazer-se essa comparação, analisar as realidades políticas actuais e tirar as respectivas conclusões.

Na essência, que diferencia a República da Monarquia?

Diferenciam-se a várias dimensões. A mais corrente, pragmática e primária, reside no facto do chefe de Estado, na monarquia, ser completamente independente de partidos, grupos financeiros e, portanto, poder agir, realmente, como supremo magistrado, árbitro e fiel da balança, enquanto na República é muito raro isso acontecer. Normalmente, os presidentes pertencem a partidos políticos e, por vezes, até fazem como alguns - em Portugal houve um recentemente - que decidem derrubar o partido do governo para favorecer o seu próprio partido, o qual, nas sondagens, já estava a obter bons resultados. Isso nunca aconteceria numa monarquia onde os reis mantêm sempre grande independência em relação aos interesses partidários. Depois, há uma outra vantagem que diz respeito à questão económica. A casa real espanhola, por exemplo, custa cinco vezes menos do que a presidência portuguesa. Isto no tempo do anterior presidente, mas hoje em dia não deve ser muito diferente. Isso quer dizer que, por habitante, custa 18 vezes menos do que o presidente de Portugal. O resto das monarquias europeias assemelha-se a essa situação, com excepção da inglesa, que é um pouco mais cara, mas, mesmo assim, a rainha de Inglaterra, por cada habitante inglês, fica mais barata, proporcionalmente, do que o presidente de Portugal.

Que propõe para que o povo português equacione, neste início do século XXI, o regresso ao regime monárquico? Um referendo?

Primeiro tem que haver informação livre, justa e objectiva. Esse é o papel das reais associações. Uma informação justa para que, após a existência de uma percentagem da população que esteja interessada numa mudança, a questão possa ser colocada à opinião pública. Existe, no entanto, um problema.A nossa constituição proíbe essa situação. É muito pouco democrática a nossa constituição. O artigo 288 diz que é inalterável a forma republicana de governo, quando aquilo que propomos é que se altere o texto para: "é inalterável a forma democrática de governo". Esta proposta foi feita no Parlamento há sensivelmente dois anos e teve a maioria dos votos, mas não chegou aos dois terços necessários para mudar a constituição. Seja como for, houve mais de metade dos votos a favor da proposta de alteração.

Acha que seria um bom rei?

Nós temos tido Presidentes da República muito bons, o general Ramalho Eanes, Mário Soares, o actual presidente Cavaco Silva... Mas o papel deles torna-se mais difícil do que o papel de um rei. Estou convencido que seria um bom rei e que poderia ser tão bom como os actuais reis europeus. Certamente tão bom ou melhor que os presidentes que temos tido. Não por causa de qualidades pessoais, mas por causa da instituição, que favorece um bom desempenho. É difícil ser um mau rei e a prova é que na Europa do século XX não houve maus reis, todos eles foram considerados muito bons.

Ser-se monárquico significa estar à direita ou à esquerda do espectro político português?

Não se pode negar que a maior parte dos monárquicos são conservadores. Há bastantes católicos, mas sempre houve, também, bastantes militantes monárquicos de esquerda. Depois existe um outro tipo de pessoas que são simpatizantes, não se assumem como monárquicos, mas dão muito apoio. Até têm havido muitos do Partido Comunista que dão grande apoio às nossas visitas, aos congressos das associações. Noto no sector de esquerda, nomeadamente no Partido Comunista, uma grande simpatia pelo movimento monárquico. Obviamente que eles dizem que são contra a monarquia, mas, por outro lado, também são contra o actual sistema republicano. O projecto comunista é completamente diferente.

Pessoalmente, considera-se de esquerda ou de direita?

Em teoria, não concordo com essa distinção. No entanto, com base no panorama político português, bem como nos valores que são defendidos, diria que, moralmente, sou conservador, mas política, económica e socialmente sou mais reformador. Existem aspectos em que me revejo mais no pensamento socialista, mas, por outro lado, há situações em que me revejo mais num pensamento reformador e moderado. Sobretudo, moralmente, sou bastante conservador. A base para medir o que está certo e errado, para mim, é a mensagem de Cristo. É a partir daí que vejo o que está certo ou errado. Cristo foi um homem extraordinariamente preocupado com as questões da justiça, mas, por outro lado, sempre fez uma grande diferença entre o que era vida espiritual e vida política. Há muitos séculos que sabemos ser obrigação do cristão lutar para que a cidade de Deus na terra seja possível através de um regime justo. Santo Agostinho perguntou qual a diferença entre um bando de ladrões e um governo. Um bando de ladrões pode governar e fazer o povo contente, mas o objectivo é que, eles próprios, ganhem dinheiro. Já um governo só é digno desse nome se tiver como objectivo o progresso espiritual e material da população.

Como reage ao livro "O usurpador", escrito por Nuno da Câmara Pereira, o qual coloca em causa a sua legitimidade enquanto herdeiro da coroa portuguesa?

Gosto da capa do livro porque diz "O Usurpador" Nuno da Câmara Pereira. Quanto ao conteúdo não acredito que tenha sido escrito pelo Nuno da Câmara Pereira. Ele não seria capaz de escrever aquelas coisas todas, não tem formação política para escrever aquilo. Sei quem escreveu o livro...

Não foi Nuno da Câmara Pereira que o escreveu?

Foi um advogado, que eu conheço e fazia de conta que era meu amigo. O próprio Câmara Pereira... Eu era muito amigo dele, dávamo-nos muito bem e ele nunca discordou minimamente dos meus direitos dinásticos. Pelo contrário, pediu-me licença para usar o título de "Dom", só que isso não foi tratado por mim, mas sim avaliado pelo conselho de nobreza, que negou, dizendo que não havia razões familiares que o justificassem. Ele ficou muito zangado e começou esta campanha. O conteúdo do livro, uma parte do livro, até não está mal feita, mas contém um conjunto de mentiras completas e não tem uma base minimamente séria.

Se vivêssemos em monarquia, pensa que Portugal estaria melhor ou pior e porquê?

Não serve de muito comparar com o passado, não sabemos muito bem como as coisas teriam evoluído. Se D. Carlos não tivesse sido assassinado, a monarquia não teria caído, considerando que, democraticamente, os republicanos tinham somente sete por cento dos votos em Portugal. Os republicanos tomaram o poder através de um golpe. Em 1900, Portugal estava a meio da tabela europeia de desenvolvimento. Agora está praticamente no último lugar. Em 100 anos, perdemos 50 pontos. Atrasámo-nos muito. Se estivéssemos em monarquia, todos os líderes do Ultramar o diziam, teríamos evoluído para uma espécie de "Commonwealth" portuguesa, um reino unido, uma confederação de estados lusófonos que, pacificamente, tinham acedido a uma independência, mantendo provavelmente uma unidade com Portugal. Quase todos os nossos irmãos africanos são dessa opinião. Ao contrário, a descolonização foi uma tragédia para nós e um drama inconcebível para eles. O nível de corrupção, de mau governo, é quase sempre maior nas repúblicas do que nas monarquias. Hoje quase toda a gente se queixa da incompetência dos governos, falta de estabilidade, mudança de critérios. Nas monarquias, os reis não intervêm activamente, mas influenciam junto dos governos e contribuem de algum modo para a estabilidade. Julgo que caso tivéssemos continuado numa monarquia estaríamos hoje, provavelmente, ao nível da Bélgica, da Europa do Norte e, certamente, ao nível de Espanha. Não havia razão nenhuma para estarmos mais atrasados.

Que palavras encontra para qualificar o assassinato que vitimou o rei D. Carlos, o denominado regicídio, cujo centenário passou recentemente?

Os assassinos eram idealistas, acreditavam no que estavam a fazer, só que Bin Laden também é um idealista. Os suicidas que fizeram cair as torres de Nova Iorque também o fizeram por ideais. Uma coisa feita por ideal não é necessariamente justa e boa. O assassinato de um rei é um crime pavoroso porque é um crime contra uma nação inteira. Pessoalmente, o rei D. Carlos tinha uma capacidade excepcional de reinar, de chefiar o Estado português, fez um trabalho muito interessante em circunstâncias muito difíceis devidas, em parte, à instabilidade que a democracia portuguesa vivia na altura - a instabilidade não é consequência da monarquia mas sim da democracia -, a alternância muito grande dos partidos no governo, a grande pressão internacional dos ingleses, o ultimato. Dizer não aos ingleses, naquela altura, seria o mesmo que declararmos, agora, guerra aos Estados Unidos da América.

O Alentejo define-se com que frase?

Parece-me que o Alentejo não é definível com frases nenhumas. É preciso estar lá e sentir, estar com as pessoas, comer aquela comida e deixar-se embalar pela paisagem. É impossível explicar o Alentejo a quem não está lá.

Que livro ou livros está a ler neste momento?

Estou a ler vários ao mesmo tempo, uma coisa que costumo fazer, vou lendo à medida que posso.Tenho estado a ler "Salazar e a rainha", de Fernando Amaro Monteiro. Estou também a ler um livro de que gosto muito, talvez aquele que mais me está a marcar neste momento. Chama-se "Arquitectura, escolha ou fatalidade", do professor Leon Krier, um dos grandes arquitectos contemporâneos. Defende que a arquitectura não deve ser obrigatoriamente a arquitectura modernista do cinzento predominante que hoje aparentemente toda a gente faz, mas pode ser uma arquitectura tradicional e regional, inspirada na cultura, no ambiente e no clima. Acho fundamental, por exemplo, que o Alentejo perceba isso, não se deixando estragar como o Norte, responsabilizando as Câmaras Municipais e reconhecendo a falta de cultura de muitos arquitectos.

Existe alguma coisa que o faça perder a cabeça?

O que me irrita mais é a falta de lógica e de coerência, irrita-me muito porque é uma questão de educação. Qualquer pessoa pode ter um raciocínio lógico e tomar atitudes coerentes.Irrita-me muito a estupidez assumida, alguém que pára o carro no meio de uma rua e não deixa ninguém passar, ou aquele que constrói uma casa muito feia num bairro muito bonito. Como se diria no Porto, uma atitude de "morcão". O indivíduo ordinário que tem orgulho em ser ordinário.

Quais são a sua maior qualidade e o defeito mais marcante?

O defeito talvez seja o de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e, portanto, não as fazer tão bem como faria se estivesse concentrado num só objectivo.Tenho talvez uma certa falta de método na maneira de agir. Quanto à minha maior qualidade, julgo que devem ser os outros a dizê-lo e não eu. Não me fica bem salientar as minhas qualidades... Acho que são muitas, mas não me fica bem dizer.

Como se define a si próprio?

Acredito em certos valores na vida e tento segui-los, ser coerente com aquilo em que acredito, embora por vezes não consiga fazer aquilo que queria, mas vou tentando.

Acalenta algum sonho secreto?

Tenho muitos. Alguns ficam guardados no armário à espera de uma ocasião oportuna e outros, quando vejo ser boa altura para os expor, procuro concretizá-los.Tenho, por exemplo, um projecto para a Guiné, muitíssimo interessante, que penso poder parar a desertificação naquela zona de África e permitir que a população rural viva do campo e não precise emigrar e correr o risco de morrer pelo caminho. Basicamente, consiste em técnicas agrícolas mais eficazes que podem ser ensinadas, bem como plantações que ajudam a proteger o ambiente e também a produzir combustível doméstico para não cortarem as árvores.Também gostaria de introduzir em Angola esse projecto e outro que tem a ver com a educação. Criei tipografias e bibliotecas em vários locais. No que respeita a tipografias, temos uma muito boa em Timor e outras mais pequenas em Angola... Timor é um país extraordinário, muito especial, cujo povo tinha gostado de continuar português, mas ninguém deixou. Foram, por assim dizer, expulsos da nacionalidade portuguesa, como foram os naturais de S.Tomé e Cabo Verde, por exemplo. Foi um dos actos mais injustos, expulsar populações inteiras impedindo-as de serem portuguesas. E agora estamos muito preocupados porque a língua portuguesa desaparece... E desaparece, precisamente, devido à escassez de livros. Uma das coisas que julgo importante é criar gráficas para produzir livros para o ensino básico e para as faculdades desses países.

Lembra-se da sua primeira namorada?

Sim, sim, muito bem.

Concorda com o casamento entre homossexuais?

As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com a sua vida, mas parece-me existir uma confusão entre aquilo que é a coabitação e a união de facto. Pode ser entre homossexuais ou entre duas velhas amigas, que vivem juntas num apartamento, não acho que isso se possa chamar casamento.A instituição casamento existe especificamente para proteger os filhos. Esse é o verdadeiro casamento. Como essas uniões não têm por objectivo a procriação, acho que não se deviam chamar casamento.

Sim ou não - legalização de drogas leves?

Tenho uma opinião que talvez possa ser considerada polémica. Há uma lei que nunca ninguém conseguiu mudar. É a lei da oferta e da procura. Enquanto houver procura, vai sempre haver oferta e enquanto houver pessoas que queiram consumir droga, haverá sempre quem a venda. Por isso, o problema terá de ser resolvido a nível do consumidor. Um adulto que queira consumir drogas leves — e isso não influencie de modo nenhum os adolescentes a consumi-las —, não vejo como se possa proibir. Não faz sentido proibir adultos de fumarem marijuana, acho eu. No entanto, admito o outro lado do problema, ou seja, se hoje quase é proibido o uso do tabaco é porque o tabaco faz mal aos mais jovens. Será que com a legalização do consumo de marijuana é possível evitar que ela seja consumida por adolescentes, a quem efectivamente faz muito mal? O mesmo problema põe-se para o álcool. Penso que mais cedo ou mais tarde vai ser autorizado o consumo controlado de marijuana.

Qual considera ser o principal problema da sociedade mundial actual?

O problema mais dramático, neste momento, reside nas mudanças climáticas, as quais são, em grande parte, consequência de uma atitude moral e ética totalmente abandalhada, na qual as nossas sociedades entraram. Os nossos políticos, cientistas e as pessoas com algum nível cultural, há muito tempo perceberam que a destruição ambiental estava a provocar um desastre, mas como não convinha levantar o problema, por razões económicas ou políticas, calou-se a situação. Agora estamos a ver-nos aflitos, sem saber se ainda vamos a tempo de evitar que o desastre nos atinja. Parece-me, assim, que o problema ambiental é o mais grave dos nossos tempos, mas é consequência da decadência moral e a falta de sentido ético na política e no comportamento individual.

Qual a coisa mais irreverente que fez até hoje e nunca contou a ninguém?

Se nunca contei a ninguém também não posso contar agora. Acho mesmo que não posso contar...

Que sente quando ouve o hino português e olha para a republicana bandeira portuguesa?

O hino foi dedicado ao meu avô e é um bonito hino, sinto-me, de facto, emocionado. Por outro lado, a bandeira tem as cores erradas, mas o escudo certo. O escudo português é o mesmo da minha família, muito bonito. As cores, verde e vermelha, é que estão um bocado erradas e, um dia, devia discutir-se a mudança, se seria uma bandeira toda azul, da cor do oceano, simbolizando os mares portugueses, ou azul e branca, como era em 1910. De facto, penso estar já na altura, 100 anos após esta República falhada - estas três Repúblicas mais ou menos falhadas -, vermos se não terá sido a bandeira que nos deu azar. Independentemente do regime político, devíamos discutir a bandeira que queremos para o país.Até porque o que acompanhou a história de Portugal foi o escudo que, felizmente, os republicanos tiveram o bom senso de manter.

(Fonte "Mais Alentejo")

PÚBLICO - (SEMI)ABANDONAMOS O NOSSO PATRIMÓNIO REAL

Não só o património natural (não cuidamos suficientemente dos nossos parques e reservas naturais como temos visto) mas também o património histórico-cultural. Refiro-me, a título de exemplo, ao comboio real português que tem sido vedeta no museu ferroviário de Utreque (Holanda). Numa exposição que decorre até 10 de Setembro, onde se podem apreciar carruagens reais de toda a Europa. O nosso comboio, um dos dois que se encontram ainda completos, é uma das peças mais apreciadas, pelos visitantes e pela rainha Beatriz, que disse ter fi cado “impressionada” com o salão D. Maria Pia, uma das partes que formam a composição, juntamente com a locomotiva D. Luiz e a carruagem do príncipe D. Carlos.Ainda segundo o PÚBLICO de 6/8, a locomotiva D. Luiz (outrora a mais rápida do mundo) foi construída em 1862 para a Exposição Internacional de Londres, onde ganhou uma medalha de ouro. 1862 é também o ano em que D. Luís e D. Maria Pia se casam. No ano seguinte, nasce o fi lho D. Carlos, futuro rei de Portugal. Em 1864, e graças a Fontes Pereira de Melo, Portugal possuía cerca de 720 Km de rede ferroviária, e em 1894 o nosso país alcançava “um honroso décimo lugar entre as nações do mundo no que respeitava à densidade ferroviária por quilómetro quadrado, estando à frente de países como a Espanha, a Roménia, a Noruega (…)”, afirma Oliveira Marques. Os caminhos-de-ferro e as estradas vieram facilitar o comércio, e foram estabelecidos vários tratados comerciais, inclusivamente com a Holanda.

Agora vem a segunda parte da minha exposição: o comboio real português foi recuperado, os portugueses puderam vê-lo até Março no Entroncamento, antes de partir para a Holanda. Ora estas despesas, ainda de acordo com o jornal PÚBLICO, saíram do bolso dos holandeses!?: “As autoridades holandesas não pouparam esforços para recuperar o comboio que estava semiabandonado na secção museológica de Santarém (…) ficaram deslumbrados com o conjunto da composição e pagaram 55 mil euros pela sua recuperação e uma pequena fortuna pelo seu transporte em 4 camiões TIR.” Sinto vergonha… Éramos ricos, agora somos pobres.

Céu Mota
Santa Maria da Feira
(Fonte: Causa Monárquica )

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A VERSÃO HISTÓRICA DOS VENCIDOS

O livro do jornalista monárquico Joaquim Leitão relata a descoordenação militar, denuncia a fuga de ministros e até revela que o futebol serviu de senha aos revolucionários

Do depoimento de todas as testemunhas dos factos de Outubro é que tem de sair a confirmação da verdade, seja ela triste, seja ela consoladora." O jornalista Joaquim Leitão fez a reconstituição do golpe através da versão dos monárquicos que foi entrevistando, compilando no livro Diário dos Vencidos (publicado em 1911 e agora reeditado pela Alêtheia) os artigos que escrevera no jornal Correio da Manhã logo após a implantação da República.

Além de revelar os problemas militares, com o capitão Martins de Lima a sustentar que o plano secreto de defesa do coronel José Joaquim de Castro (que, neste livro, defende a sua estratégia, num curioso confronto de versões) "foi mais prejudicial à Monarquia que todo o clorato de potássio e dinamite dos carbonários, foi uma bomba única, fenomenal, que derrubou um regime e cujo estampido repercutirá para sempre na História de Portugal", esta obra também denuncia as traições, "coincidências que lembram cumplicidades, fraquezas que parecem vendas, desorientações que passam por cobardias".

No quartel-general, o ministro da Guerra, Raposo Botelho, "estava vestido à paisana, sentado à mesa, reconfortando-se com um caldo reparador". O seu colega Marnoco e Sousa, "o intemerato ministro da Marinha que o [primeiro-ministro] sr. Teixeira de Sousa foi pescar ao Mondego" (era professor de Direito em Coimbra), após entrar pela primeira vez na vida no Arsenal, saiu de lá, foi bater à porta de uma pensão e alugou um quarto. "O proprietário, carbonário, reconhecendo o ministro, deixou-o entrar e fechou-o à chave por fora."

Mas nada se compara "às atribulações do sr. Pereira dos Santos, último ministro das Obras Públicas da Monarquia, [que,] fugindo com o terror da chacina, pelos bairros excêntricos de Lisboa, são de encomenda para alegrar um chorão". O governante andou a mendigar um abrigo para se esconder ("prefiro morrer à fome do que fuzilado") e, quando, dias depois, chegou à sua casa no Estoril, passou várias vezes diante da porta com medo que estivesse ocupada pelos revoltosos, que, decerto, o executariam.

Perante isto, de pouco vale a explicação do capitão de infantaria que tinha fugido, ao ser interpelado por um oficial do Estado Maior: "Caiu ao pé de mim uma granada que me atirou um torrão com toda a força e que me magoou imenso. Está claro que me vim embora."

Panorama dos acontecimentos obtida junto dos que se esforçaram por defender o regime monárquico ou assistiram a tudo junto de D. Manuel II, o livro mostra imensos absurdos. O Campo Entrincheirado, por exemplo, "não podia intervir de maneira nenhuma", explicava anonimamente "um oficial de artilharia, muito conhecido pelo nome político da família, e antigo deputado, que pertencia à guarnição dum dos fortes" daquele complexo. "Eu explico. O Campo Entrincheirado compreende as baterias Rainha Amélia, Rainha Maria Pia e Duque de Bragança, na margem norte; e a bateria da Raposeira, na margem Sul; São Gonçalo, ao pé da Duque de Bragança. As da margem norte batem até Entre-Torres e fora da barra, sendo nestas que estão os obuses de 28. A Raposeira bate por cima da Trafaria. Ora, as baterias estão assentes para defender Lisboa de ataques de fora, e não de ataques de dentro. E como o campo de tiro, nestas peças de tiro indirecto, não abrange o quadro dos navios de guerra, o Campo Entrincheirado não podia bater cá para dentro. Para o Campo Entrincheirado incomodar os navios [republicanos] era preciso que eles saíssem a barra. Mas há mais coisas curiosas. Caxias tem obuses de 28 e tem lá um farol. Pois, como o farol podia cair, nunca se experimentou os obuses."

Razão tinha Martins de Lima quando propôs que se prendesse o Governo, esses "intrusos" que punham o quartel-general "numa confusão de endoidecer". "E hoje estou arrependido de não insistir até o general prender os ministros. Afinal, quem fez a República foram eles."

O livro está repleto de preciosidades históricas. "Este é do pontapé na bola", dito pelos marinheiros revolucionários, pois "muitas praças do cruzador Adamastor jogavam bem o foot-ball", queria dizer "este é do movimento".

E Joaquim Leitão aproveita para lançar uma crítica fora do contexto. "Com a mania que há entre os filólogos - que são os homens mais maníacos que se podiam inventar - de traduzir o intraduzível, os desportistas entenderam que deviam traduzir o foot-ball por 'pontapé na bola'."

Jornalista cuidadoso, para não ser acusado de criar boatos, confirma os depoimentos e, quando não atribui a autoria, esclarece logo os leitores. "Quem é este nosso entrevistado?... Pouco importa sabê-lo. Basta que a garantir a autenticidade possamos dizer, como podemos, que Paiva Couceiro, a quem lemos a entrevista antes de a publicarmos, a confirmou em todos os pormenores."

Joaquim Leitão só não podia suspeitar que um dos três tenentes do quartel dos marinheiros de Alcântara, que não aderiram à revolução e foram presos, seria um vulto notável nas décadas seguintes. Chamava-se António Sérgio.

(Fonte: DN)

REAL TERTÚLIA COMEMORA 19º ANIVERSÁRIO EM MONTEMOR-O-NOVO

Manuel Andrade Guerra
A Real Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I irá pela primeira vez comemorar o seu aniversário - 19º - fora de Lisboa, desta feita no próximo dia 5 de Setembro em Montemor-o-Novo, por ocasião da tradicional Feira da Luz.

Haverá um grande almoço nos Claustros do Convento de São Domingos (junto à praça de toiros, onde nessa tarde se realiza a habitual corrida de toiros) com ilustres convidados-surpresa e a presença do Sócio de Honra, Luis Miguel da Veiga, que será homenageado pelo facto de se assinalarem este ano 50 temporadas desde a sua apresentação como cavaleiro amador, precisamente na arena de Montemor.

Na altura, será também feita a apresentação no Alentejo do livro "Cavaleiros - Heróis com Arte", de Manuel Andrade Guerra (presidente do Directório da Real Tertúlia, na foto), obra essa que é em grande parte dedicada à Família Veiga.

(Fonte: Farpas Blogue)

NOVO SÍTIO NA INTERNET - DUARTE DE BRAGANÇA.CO.CC

Site Duarte de Bragança : http://duartedebraganca.co.cc/

Foi criado um site dedicado exclusivamente a D.Duarte de Bragança e à Causa Monárquica, pretende-se com este site juntar tudo o que existe de informação monárquica dentro e fora das redes sociais. Também se pretende criar um ponto de referência para que por alguma razão a página do Facebook Duarte de Bragança desapareça as pessoas não percam a ligação com D.Duarte e através do Google seja possível voltar a encontrar a página de Facebook e as restantes redes. Basta carregar na página do site para aceder a praticamente todos os mais importantes sites e rss feeds sobre a Causa Monárquica, os últimos ajudam a que seja possível consultar num telemóvel.

Esperamos com esta solução responder aos fechos arbitrários de contas no Facebook referentes a D.Duarte de Bragança. Obrigado pelas mensagens de apoio que nos têm chegado.

Cumprimentos Monárquicos

Webmaster
(Fonte: Blogue "Esquerda Monárquica")

domingo, 29 de agosto de 2010

O EXPRESSO E A RESISTÊNCIA CLANDESTINA PORTUGUESA

Sábado de manhã, muito calor e um verão que vai a meio, sem que isso até hoje significasse praia. Lá me decidi ir de comboio até Carcavelos e para me entreter, recorri ao saquinho de plástico que entre muito desperdício de papel, contem o Expresso.

Já em viagem, estourou uma audível zaragata num grupo que digladiava argumentos acerca da actual situação política. Entre o mata e esfola, as sugestões de "pena de morte" e um infindável e esperado arsenal de "pneus a arder, bastões de ferro, caçadeiras e barricadas", decidiram-se pela necessidade de "acabar com isto". "Isto", diante de um agente da autoridade que se alheou completamente, não fazendo caso do chorrilho de insultos endereçados aos vários palácios do Poder.

Dizendo para mim o inevitável ..."a coisa vai mesmo mal, perdeu-se a compostura e o medo", tentei abstrair-me e abri o semanário, encontrando as notícias que fomos conhecendo ao longo da semana. A crónica de Miguel Sousa Tavares consiste numa variante elegante daquilo que ainda era possível escutar no berreiro que alegremente decorria uns bancos mais à frente, mas a novidade, consistiu nas duas páginas de destaque, brilhando pelo ineditismo do tema escolhido. Trata da "questão dos monárquicos" que são afinal, muitos mais do que aquilo que se possa pensar. Surgem de forma inesperada, cortam todo o espectro político e já muito longe do labéu de "ratos da Torre do Tombo", desempenham as mais diversas funções. Isto poderá espantar a maioria dos leitores do Expresso, sempre chamados a ler os piramidais e insondáveis desígnios de escutas jamais feitas, os inefáveis poderes presidenciais que existem em part-time, os tais procuradores à cata de algo mais e o fabuloso mundo dos terrenos, demolições, centros comerciais e contentores vários, além de casos futebolísticos que captem a atenção de uma franjinha mais desportiva.

Grande surpresa, essa... O Expresso está verdadeiramente boquiaberto, ou então, é globalmente parvo parvo andando a "fazer de conta", ou para tudo ser mais plausível e elevado, resolveu-se a tactear o terreno. Já há uns anos, o seu director José António Saraiva o fez, mesmo que de forma indirecta e evocando o rival país vizinho.

Já paira entre todos, aquela sensação de que o país precisa e quer algo de novo. Que corte cerce o legado das últimas duas décadas, mas não perturbe a tranquilidade palradora de todos os nós. Assim, talvez seja esta uma das interpretações a dar às imprevistas páginas centrais do Expresso.

Afinal, é uma "surpresa" que não o é, até para os mais desatentos. Embora disso não se fale, "eles" existem em todas as famílias, todos os partidos, locais de trabalho e sobretudo, irritam precisamente aqueles que se sentem donos da vontade alheia. Enfim, estão por aí, silenciosos, dificilmente mutáveis e de uma persistência estóica, sabendo bem qual a sua primeira fidelidade acima de qualquer clube, grupinho debicador de acepipes ou leituras.

Existem mesmo. Mas qual é a surpresa? Não são uma "meia dúzia" de milhar, nem uns excêntricos de estranhas falas e vetustos almanaques debaixo do braço. São gente que todos têm ao lado, muitas das vezes sem que disso se dêem conta.

Não são afinal os monárquicos portugueses, o mais subterrâneo e teimoso movimento clandestino de resistência em Portugal?

Nuno Castelo-Branco
(Fonte: Estado Sentido)

ENTREVISTA A S.A.R D. ISABEL DE BRAGANÇA, PELO CORREIO REAL DE JUNHO DE 2010

S.A.R. Dona Isabel de Bragança Princesa Real e Duquesa de Bragança, nasceu na freguesia de Alvalade, Lisboa, em 22 de Novembro de 1966.

É a XXIV Duquesa de Bragança pelo seu casamento com Dom Duarte Pio, Duque de Bragança e actual Chefe da Casa Real Portuguesa. D. Isabel de Bragança viveu entre Portugal e Angola até 1975, quando a sua família se mudou para São Paulo, Brasil.

Estudou na escola jesuíta de S. Luís, em S. Paulo, até 1988. Em 1990 obteve um MBA na Fundação Getúlio Vargas, na mesma cidade brasileira, e voltou para Portugal onde ingressou numa sociedade de gestão de patrimónios, área onde se especializou. A 13 de Maio de 1995, casou com o Duque de Bragança no Mosteiro dos Jerónimos, consagrando a partir de então os seus esforços à vida familiar. É a mãe de Dom Afonso (nascido a 25 de Março de 1996), Dona Maria Francisca (3 de Março de 1997) e Dom Dinis (25 de Novembro de 1999). D. Isabel é desde 1995 patrona de várias instituições de caridade, a maioria dedicada ao cuidado e suporte de crianças necessitadas e de pessoas vitimadas pela síndrome de Down. Além de Princesa Real e Duquesa de Bragança, é Grã-Mestre da Ordem de Santa Isabel, Grã-Cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Grã-Cruz de honra da Ordem de Malta e Grã-Cruz da Ordem de S. Maurício e São Lázaro.

Qual é a análise que faz VAR da crise que atingiu a economia mundial há dois anos ?

Não houve controlo em certas operações financeiras e imobiliárias, nem por parte do Estado, através de uma entidade independente, nem das próprias entidades reguladoras do sistema financeiro. Além de se ter emprestado dinheiro sem o cuidado necessário. Em grande parte foi o que originou esta crise financeira nos Estados Unidos e em vários países europeus. Damo-nos conta de que tem de haver controlo por parte de uma instituição verdadeiramente independente e que não se possa corromper.

Além dos aspectos económicos e financeiros encontra VAR outras justificações para a ameaça que paira sobre as economias ocidentais?

No mundo ocidental e em Portugal, em particular, passámos a viver acima dos nossos meios, a consumir mais do que produzimos, tanto as famílias como o Estado. Com o euro, ficámos com a sensação de sermos como a Alemanha, só que sem a produção e o nível de preparação que há nesse país. Os historiadores há muito tempo que explicam que quando um povo enriquece subitamente sem melhorar o seu nível cultural, acaba por consumir essa riqueza e fica mais pobre e infeliz do que antes. Isso sucedeu em muitos países do "terceiro mundo" e infelizmente sucedeu aqui...

As famílias frequentemente desperdiçaram a riqueza com bens supérfluos, e o Estado, em alguns casos, fez o mesmo ... Temos mais quilómetros de auto-estrada por habitante, temos provavelmente o maior número de casas por família, enquanto deixamos cair as áreas antigas das cidades. Temos o pior nível de educação e formação profissional da Europa. Já fomos ultrapassados pelo Brasil.

Infelizmente, exactamente pelo problema cultural, parece que concordamos com essa situação em vez de exigir-mos melhor educação, mais disciplina e menos desperdício por parte dos governantes.

Que papel poderá ter o Ideal Monárquico na superação desta crise que o País atravessa?

Nos países europeus que têm reis e rainhas como Chefe de Estado esses problemas são em geral mais bem resolvidos. Em Portugal, quem adere ao ideal monárquico são pessoas com elevado sentido patriótico, que colocam o interesse nacional e os valores morais acima dos seus interesses pessoais imediatos.

Infelizmente a grande maioria dos portugueses adeptos da Monarquia não se associaram ainda às Reais Associações, e por isso não podem ser contactados, informados e convidados a participar na luta política que é necessário conduzir para salvar Portugal.

Por falar em Reais Associações, o que considera que tem corrido melhor e pior na sua dinâmica ?

O desenvolvimento das Reais Associações foi muito diverso de região para região, conforme a capacidade dos seus dirigentes e a militância dos associados. Em geral tem funcionado como fermento e testemunho, levando muita gente a encarar a alternativa monárquica como uma proposta válida para a qualificação da nossa vida política. Mas o facto de serem a representação oficial do Movimento Monárquico e contarem com o apoio do meu Marido, também as obriga a certa prudência. Ao estarem abertas a pessoas de todas as tendências políticas, não podem tomar posições vistas como sendo partidárias.

E a intervenção política dos monárquicos portugueses?

A intervenção política dos monárquicos pode acontecer de muitas maneiras. Há notáveis organizações de intervenção cultural e política criadas e dirigidas por monárquicos. Há tendências monárquicas nos partidos políticos, há organizações de estudantes, de profissionais monárquicos, etc. Mas é muito importante que todos estejam filiados numa organização nacional comum, pelos motivos que já disse. Quando, sobretudo nas regiões com menos população, as pessoas não se filiam e não participam, os dirigentes ficam sem meios humanos para cumprirem a sua missão.

É verdade que infelizmente algumas direcções como que adormeceram, ou "fecharam-se" sobre si próprias. Mas, pelo que sei, com os novos estatutos essas situações estão a ser ultrapassadas.

Em conclusão: as R.A. são aquilo que os seus associados quiserem fazer delas. Há acções com grande visibilidade, como a presença oficial nas feiras e exposições que temos visitado, graças à notável colaboração de generosos voluntários. Também organizam as nossas visitas oficiais às suas regiões, em colaboração com as Câmaras Municipais. Mas creio que deveria ser estimulada a "formação política" dos monárquicos, para saberem defender e explicar melhor os objectivos. E também para usarem técnicas de comunicação mais eficientes.

Cem anos depois da queda da Monarquia quais os principais argumentos para a restauração?

Acho que o mais óbvio será comparar o nível de desenvolvimento que aconteceu em todas as monarquias europeias, com o nosso atraso relativo a elas nos últimos cem anos.

E outros factores: o Reino Unido conseguiu manter uma ligação profunda com as antigas colónias através da Commonwealth, e a nossa república provocou a desastrada e trágica descolonização que vivemos. Quanto ao presente, se a democracia portuguesa pudesse contar com um Rei, ele contribuiria certamente para dar mais estabilidade e dignidade à política, ajudando os governos, sem ser suspeito de querer favorecer um partido ou alguns interesses económicos. Um Rei é de facto de todos, e não só dos que o elegeram, enquanto que em Portugal a percentagem da população que, realmente, elege o presidente chega a ser menos de 25 por cento...

Mas o mais importante é o seu valor simbólico: o Rei representa a face humana da Nação. E a Família Real simboliza a sua continuidade para além das transformações impostas pela história.

Como vê a evolução do papel das mulheres portuguesas nos últimos cem anos?

Creio que foi lento em comparação com o resto da Europa durante a Primeira e Segunda Repúblicas. Nesta Terceira República houve uma evolução mais rápida, mas há ainda muito caminho a percorrer. Penso que o papel da mulher é fundamental na sociedade e na política do país

Há pouco falou em sermos mais exigentes com a educação. Está VAR preocupada com o actual estado do Ensino em Portugal?

Os professores são quase heróis, pois a lei e a práctica actual tirou-lhes a autoridade necessária para manter a disciplina em muitas escolas públicas.

Quanto aos programas, foram muito influenciados por ideologias idealistas e utópicas, muitas vezes desajustadas da realidade. As consequências estão à vista, pois temos os piores resultados escolares da Europa. Creio que só as famílias dos alunos, devidamente organizadas, é que poderão pressionar os políticos à mudança necessária.Isso deveria ser negociado com os partidos antes das eleições e o Estado tem de ser fortemente pressionado. Senão, é sempre mais simpático dar boas notas e diplomas a todos, quer estudem e tenham conhecimentos quer não...

Os programas, portanto, não lhe parecem adequados?

Acho que os programas são excessivamente teóricos e com matérias a mais.

Quanto aos 90 minutos de aulas...qual é a criança ou o adulto que consegue concentrar-se 90 minutos em matemática, quimica ou outra matéria?

Talvez para algumas cadeiras menos densas...

Quando me dizem que isso acontece porque em algumas escolas é mais tempo para que os alunos se acalmem e se concentrem, então acho que cada escola devia ter a liberdade de decidir a duração das aulas, conforme a necessidade dos seus alunos.

Estão a criar-se graves problemas à vida e ao crescimento das crianças.Para além de que elas precisam de tempo livre para brincar e practicar actividades desportivas e outras.

É simbólico que quando se procura afastar os jovens da educação moral torna-se obrigatória a participação nas aulas de "educação" sexual - apesar desses programas serem contrários às convicções da maioria das famílias. Muitos pais nem suspeitam o que lá se ensina às crianças...

Em relação ao nosso Príncipe e Infantes como faz VAR para superar as insuficiências do sistema de ensino?

O meu marido e eu acompanhamos diariamente os estudos dos nossos filhos e tentamos ajudá-los a ultrapassar certos aspectos menos felizes dos programas.

João Távora

Duarte Calvão

(Fonte: Monarquia Portuguesa )

sábado, 28 de agosto de 2010

REVISÃO CONSTITUCIONAL - UMA OCASIÃO QUE NÃO PODE SER PERDIDA

Os poucos republicanos convictos da imprescindibilidade do regime para a manutenção da democracia e o alcance do progresso, tentam colar aos que defendem o regresso ao regime que durante quase oito séculos presidiu aos destinos de Portugal evoluindo e adaptando-se aos tempos, o rótulo de passadistas, retrógrados, defensores de privilégios e outros epítetos semelhantes.

São quase sempre os mesmos que neste ano do centenário da República, falam dos primeiros anos do regime imposto revolucionariamente em 1910, como de um paradigma, mesmo de um paraíso perdido, onde a onda avassaladora da liberdade, da paz social, das novas conquistas civilizacionais, se impôs pela bondade das suas ideias e realizações. Tem sido esse o tom das conferências, palestras, publicações e exposições que, um pouco por todo o país, o Estado, as autarquias e algumas escolas e universidades têm realizado, no afã de agradar às clientelas nuns casos, aos poderes públicos noutros.

João Mattos e Silva
Presidente da Real Associação de Lisboa

(Fonte: Causa Monárquica )

A REPÚBLICA HOMENAGEIA AMÉLIA DE ORLEÃES?

Na Rotunda, a rainha

Diz a notícia batráquio, que ..."aproveitando as Comemorações do Centenário da República", realizar-se-á uma série de eventos culturais em toda a capital. Orquestras de jazz, disc jockeys, dança e cinema, preencherão um mês inteiro. Não podemos deixar de "parabenizar" - é assim que deveremos passar a falar, não é? - quem se lembrou de entreter os numerosos turistas que acorrem a uma cidade em completa decadência. Esburacada, com os seus prédios a ameaçarem substituição por monturos informes de reles betão, deserta e com fachadas cheias de letreiros pois "Era", "vende-se", temível "projecto aprovado" e outras malandrices do estilo, Lisboa precisa de oferecer entretenimento, nem que seja para simular pertencer ao mais badalado espaço europeu. Na verdade, esta cidade cada vez mais se parece com a sua prima além Mediterrâneo, a Argel das esplendorosas construções de traço francês, vidros estilhaçados, trapeiras que se afundam nas telhas partidas, fachadas que mostram cinco ou seis camadas de tinta às três pancadas, alumínios que substituíram as persianas de madeira, estuques esboroados e gradeamentos enrubescidos pela ferrugem do tempo. É o progresso que temos.

Concordamos com a ideia de aproveitar as noites amenas do estio, onde uns jogos de luz emprestarão algum brilho a cenários de alvenaria cheios de mazelas que o impenitente sol não deixa esconder. O que se torna um absurdo é a inclusão destas iniciativas, no âmbito das comemorações da famigerada república. Não contentes com degraus estilo Burbbery's, uma estátua equestre com carradas de lixo e um "cais de pedra quase desaparecido no Terreiro do Paço, agora servem-se da república para entreter os viandantes mais incautos. Para mais, atrevem-se a invocar as "mulheres" da dita cuja, para prestarem louvaminhisses que estranhariam às mesmas. É que enquanto na monárquica e aliada Inglaterra, as milhares de activistas que seguiam Emmeline Pankhurst acabaram por conseguir a igualdade que lhes era negada, no Portugal republicano tivemos as mulheres sujeitas à discriminação milenar e pior ainda, com princípios impiedosamente propagados em cartilhas, jornais de leitura em casa de pasto, legislação vexatória e oratória vibrante de machismo que roçava a misoginia e outras certezas próprias de sifilíticos machotes sorvedores de vinhaças no café Gelo. Os linotipistas ao serviço das folhas de Afonso Costa, lá iam compondo umas linhas destinadas a ensinar os seus bons "chefes de família" e tanto sucesso obtiveram, que aquela "república calma, de ordem e de tranquilo progresso" que sucedeu ao período revolucionário, integraria plenamente na ideologia oficial, todo o precioso legado de quem estabeleceu as regras da prioridade, da hierarquia. De facto, a partir de 1910, deixou de haver lugar à possibilidade de uma mulher ascender à chefia do Estado, quanto mais, tornar-se, por imposição desse cargo, comandante supremo das forças armadas... Era só o que mais faltava, voltar Portugal inteiro a ter de deixar um ser inferior, destinado à mudança de fraldas, panos do pó, panelas, vassouras e agulhas de coser, passar à frente de homens que ainda por cima, abriam alas em respeitosa reverência. Nem pensar nisso, nunca mais. O mulherio devia seguir por outro caminho e voltar à batinha doméstica, porque a outra, aquela que dizia o que bem entendia ser a verdade, fazia lembrar aqueles ominosos tempos, em que os homens eram pela regra, obrigados a sujeitar-se a costumes bem diferentes.

Acabaram-se com os puxões de orelhas a ministros que faziam ouvidos de mercador às imprecações de uma Amélia de Orleães, escandalizada pela fábrica de gás construída diante da Torre de Belém. Acabaram-se de vez com as retiradas estratégicas diante da colossal figura da majestade, quando esta perseguia conselheiros e deputados, exigindo a tomada de medidas e a outorga de projectos e verbas que zelassem pela saúde pública, instituíssem sanatórios, hospitais, institutos de investigação científica, lactários, cozinhas de assistência, berçários e programas de formação da juventude. Nada de chapéus espampanantes com penas de avestruz, rendas, leques e sedas cor de rosa à la mode de Paris, ou muito menos ainda, primazias de primeira fila. Nunca mais queriam ter pela frente Marias Segundas que se atreviam a colocar ministros na ordem e apontavam com o indicador para o articulado da Carta, ou Marias Pias que ameaçaram militares golpistas com pelotões de fuzilamento. Sobretudo, não admitiriam mais as mulheres que liam e se imiscuíam na vida pública, tinham opinião e discordavam, não podendo por isso mesmo, ter qualquer tipo de relevo. Visibilidade ou primazia institucional, então, jamais.

Para os fulanotes de chapéus de coco, bengala, bigodinhos retorcidos e pêras à caceteiro do republicanismo, o símbolo de muitas mulheres foi durante décadas, aquela que um dia desembracou numa Santa Apolónia apinhada de um povo desejoso de ver o futuro que chegava. Aquele porvir que trazia o interesse pela ciência e pelas questões que procuravam mitigar os abusos do laisser faire da sociedade liberal. Essa mesmo que gostava de pintar ao ar livre, que se atrevia a ler "indecências estrangeiras", ia ao teatro sem o marido, discutia os grandes temas como uma igual entre os intelectuais e que ousava fotografar, tratando ela própria, das coisas técnicas da nova arte.

Amélia de Orleães era para os rufiões do PRP, ..."a mulher de hoje, sobretudo aquela que vegeta nas cidades onde há cheiros de civilização, não é a mulher como devia ser, nem tão pouco parece aproximar-se da devida meta, é uma mulher manequim, chapa aonde os holofotes das. casas de modas de Paris e de Londres projectam as linhas caprichosas dos seus figurinos complicados. E’ uma mulher falsificada, pretensiosa, entalada em rígidas lâminas de aço, e aumentando sensivelmente o seu peso real com alguns quilos de algodão que lhes retocam as deficiências do físico." Este textozinho consiste numa amálgama daquilo que o PRP fazia distribuir pelas ruas da capital, quando à rainha se referia e a primeira imagem que imediatamente surge, é a do retrato pintado por Corcus, pendurado na parede de honra do Museu dos Coches. Daí o ódio por quem saía à rua sozinha com os filhos, ia às compras na Baixa, cavalgava solitária no Jardim do Campo Grande, ia às touradas no Campo Pequeno, discutia os temas da actualidade, atrevia-se à política, enfrentava sapiências genuínas ou duvidosas e trocava correspondência com vultos eminentes da ciência e das artes. Não podia ser, aquela mulher significava a subversão da ordem aceite.

Muito bem faz a escabiótica comissão oficial do Centenário da República - a república de 1926-74 incluída -, quando sem o querer, homenageia quem jamais se sujeitaria ao estatuto de inferioridade a que o regime condenou as mulheres portuguesas, a partir daí votadas à condição subalterna de madames Carmona, donas Gertrudes e pouco mais, porque das outras, as senhoras Bernardino ou Almeida, não reza a história. Muito menos ainda, os figurinos da moda.

De facto, quando se fala em república de início do século, apenas um nome permanece na mente de todos: o da corajosa, gigantesca, teimosa, inteligente e risonha Amélia. Um ícone sem rival.

publicado por Nuno Castelo-Branco
(Fonte: Blogue "Estado Sentido")

HISTÓRIA ESSENCIAL DE PORTUGAL DO PROFESSOR JOSÉ HERMANO SARAIVA (VOLUME 5)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

HOJE FAZ UM ANO QUE FALECEU UMA GRANDE MONÁRQUICA: CLAUDETTE ALBINO.


VAMOS HOMENAGER A SUA MEMÓRIA VISITANDO A EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DA SUA OBRA.
HOJE É O ÚLTIMO DIA DA EXPOSIÇÃO!

AVEIRO - DE VILA A CIDADE. POR CLAUDETTE ALBINO (1939-2009)

Aveiro nos princípios do séc. XVIII, vendo-se o lado norte da muralha. Painel de azulejos existente na estação do caminho de ferro de Aveiro.

A partir do séc. X, encontramos escritos que referem Aveiro como... "terras in Alavarium e salinas...", o que está descrito na doação que Mumadona Dias fez ao Mosteiro de Guimarães em 959. Esta primeira referência relaciona Aveiro com a exploração de salinas. A origem do nome Aveiro tem sido muito discutida e tem sido defendida de várias formas por diferentes autores. Defendemos que Aveiro foi construída pelos Romanos, que lhe terão chamado Avaricum ou Avarico nome que os Romanos deram também à cidade da Gália, com canais semelhantes aos de Aveiro, a actual Bruges. Foi construída depois da destruição de Talábriga pelos Mauritanos, que assolaram e destruíram as povoações costeiras abaixo do rio Douro. Em memória, figura nas armas de Aveiro uma águia parda com a coroa imperial, emblema que os imperadores romanos usavam no seu estandarte. No séc. XI aparecem as formas de Aaveiro e Aavero, sendo Aveiro definida como vila neste mesmo século.

Todo o labor em torno do sal adquiriu enorme importância na zona, o que se deduz do interesse que havia por parte dos senhores empenhados na sua exploração e aproveitamento (Silva, 1991: 96 - 104).

A exploração do sal e do barro deve ter sido factor determinante no povoamento da região, assim como a sua situação junto à foz do rio "Vácua" e ao mar. Columella (60 d. C.) dizia que para que uma «villa» tivesse condições ideais devia situar-se junto ao mar ou a rio navegável. A verdade é que houve um interesse sentido, desde muito cedo, pelos iniciadores das dinastias condais, que aqui tiveram propriedades. Nos princípios do séc. XII, existem alienações de propriedades nos arredores de Aveiro, levadas a cabo por dona Teresa e D. Henrique, o que indica que a região de Aveiro era domínio dos Condes Portucalenses (Azevedo, 1958). Em 1187, o rei D. Sancho I fez doação da "villa que vocatur Aaveiro" a sua irmã dona Urraca Afonso (T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 5: 69-69 v.). Saiu depois a vila do património régio, mas D. Dinis fez com que a ele voltasse por a ter readquirido quando se encontrava na posse do Mosteiro do Lorvão (Silva, 1991: 66 - 69).

No tempo ainda de D. Dinis, fins do séc. XIII, é criado em Aveiro um banco de comércio destinado a apoiar as relações mercantis. D. Afonso IV decretou reformas de carácter administrativo e judicial, que tinham por objectivo fortalecer o poder real e combater os grandes senhorios. Com o objectivo de controlar o poder senhorial, ordenou a reorganização geral da administração. A lei pragmática, promulgada por este monarca, visava limitar os gastos, definindo o número de trajos que cada um podia fazer por ano, de forma a tabelar e estabilizar os preços dos bens de luxo. Em meados do séc. XIV, a peste negra assolou a região de Aveiro, mas a recessão então sentida foi anulada com directivas para povoar as terras abandonadas, seguindo-se uma grande vitalidade económica e o sucesso da política de fomento depois da crise.

Canal Central de Aveiro, nos meados do século XX.

Aveiro vive com o senhorio régio do séc. XIV uma época de fomento, de produção de sal e de comércio do mesmo, assim como de objectos de barro e outros produtos, servida por estradas e pelo mar, pelo que foi um centro quase que exclusivamente comercial, pouco dedicado à vida agrícola e à pastorícia. Assim, via-se obrigada a recorrer à importação dos bens essenciais, tornando-se numa vila poderosa e assim continuando no séc. XV.

Aveiro na década de 1950, vendo-se a zona central da cidade.

Aveiro tem ainda hoje, na sua parte central, estrutura de vila da idade média com a rua direita, que ia então, da porta da vila à porta da ribeira, passando ao lado da Praça do Município, onde ficava a Igreja de S. Miguel, no local onde se encontra hoje a estátua de José Estevão, e em frente da qual estava e ainda se encontra o edifício do Município, que então era também cadeia. Em 1423, D. João I possuía umas casas na rua Direita, tendo então passado carta de aforamento em relação a algumas (T. T. Chancelaria de D. João I, livro 4: 79). Quer os reis da 1ª dinastia, quer os reis da 2ª dinastia estiveram sempre ligados a Aveiro, por si ou através de familiares, não permitindo que os senhores aqui tivessem poder. Aveiro só teve Conventos a partir do séc. XV, tendo sido autorizada a fundação do primeiro, o Convento Dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia, em 1423, tendo sido D. Pedro, filho de D. João I, a colocar por sua mão a primeira pedra que deu início à construção (Arquivo da Misericórdia). Em 1456, os religiosos deste convento foram isentos do pagamento de sisa, dízima ou portagem de bestas, madeiras e outras coisas. Outros conventos foram surgindo: Convento Franciscano da Madre de Deus, Convento de Jesus, Convento Franciscano de Santo António, Convento do Carmo, Convento das Carmelitas, cuja cerca foi construída no espaço que tinha sido ocupado até ao séc. XV por dezassete casas da Comuna dos Judeus de Aveiro. De todos estes conventos somente continua a existir o do Carmo. No Convento de Jesus está hoje implantado o Museu Nacional de Aveiro. O Convento da Misericórdia existe hoje como Casa da Misericórdia, ao lado da qual está a igreja do mesmo nome. Dos restantes ficaram as igrejas.

Protecção especial de D. Afonso V e de D. João II teve o Convento de Jesus, onde viveu a Infanta D. Joana com seus escravos e seu sobrinho D. Jorge de Lencastre.

Sempre sob protecção real, Aveiro foi crescendo. Se até 1572 teve como Igreja Matriz a de S. Miguel e uma única freguesia, nesse ano de 1572, com 11.365 pessoas de comunhão, foi dividida em quatro freguesias, a de S. Miguel, as de Vera-Cruz e S. Gonçalo, na Vila Nova, zona de pescadores e marnotos, e a do Espírito Santo, para cimo de vila, já fora das muralhas. A freguesia de S. Miguel compreendia a parte mais nobre da vila, quase toda muralhada, a mais rica e a mais distinta. Dentro desta freguesia ficavam as casas dos Sousas, dos Távoras, Pizarros, Amarais e outras. Dentro desta freguesia ficavam ainda o recolhimento de S. Bernardino, a Igreja da Misericórdia, a Albergaria de S. Brás, a Capela dos Santos Mártires, a do Passo, a de Sto. António, o Tribunal e outras repartições administrativas (Quadros, Apontamentos Históricos).

D. Sebastião, em 1577, ordenou ao provedor da comarca de Coimbra que se deslocasse a Aveiro e verificasse como os pescadores pagavam o dízimo do pescado a Francisco Tavares, e se informasse se recebiam por isso algum vexame ou se pagavam mais do que o que deviam. O clero, aqui em Aveiro, também não teve poder. Os conventos aqui existentes eram quase todos de ordens mendicantes. O facto de o poder senhorial e o poder clerical não se terem feito sentir em Aveiro, de o sal e a sua exploração ter forma contratual especial e ter sido fonte de riqueza, de a agricultura não ter tido em Aveiro um primeiro lugar na economia da vila e depois na economia da cidade, conduziram a que os habitantes de Aveiro adquirissem uma postura de liberdade, que souberam manter mesmo em momentos difíceis da nossa história.

Em 1759, por alvará de 11 de Abril, D. José I "considerando a situação natural da povoação e circunstâncias que concorriam na vila de Aveiro e nos seus habitantes, e folgando pelos ditos respeitos, e por outros que inclinaram a sua real benignidade, houve por bem elevar a dita vila de Aveiro, notável por mercê filipina, à dignificante categoria de cidade" (Arquivo C.M.A., I: 25).

Em 1807 a Procissão de Santa Joana, Padroeira da cidade de Aveiro, foi considerada real; e passou a participar nela o Senado da Câmara (T. T. Chancelaria de D. João VI, 11: 9). A Câmara ainda hoje participa nesta procissão, com outras instituições da terra, nomeadamente a Universidade.

Em 25 de Julho de 1835, foi nomeado primeiro governador civil de Aveiro o oficial da marinha, José Joaquim Lopes de Lima (Arquivo, XXXV, : 53), que, em 11 de Outubro do mesmo ano, mandou publicar um alvará, reduzindo a duas as quatro freguesias da cidade: a freguesia da Vera Cruz e a freguesia de Nossa Senhora da Glória (Quadros, Apontamentos Históricos) tendo, neste mesmo ano, sido demolida a Igreja de S. Miguel.

Com a extinção dos concelhos de Esgueira e Aradas, ambos em Novembro de 1836 (Arquivo, XXXV: 56), aquelas povoações foram incorporadas no Município de Aveiro: a primeira, na freguesia da Vera Cruz; e a segunda, na freguesia de Nossa Senhora da Glória.

O Concelho de Aveiro tem hoje uma população residente elevada, que está dividida pelas freguesias de Aradas, Cacia , Eirol , Eixo, Esgueira, Nossa Senhora da Glória, Nariz, Nossa Senhora de Fátima, Oliveirinha, Requeixo, Santa Joana, S. Bernardo, S. Jacinto e Vera Cruz. Destas freguesias só duas são consideradas urbanas: Vera Cruz e Glória, não sendo nenhuma delas a que tem mais população residente. Para além da população residente, Aveiro tem uma população migratória que tem vindo a aumentar pelas seguintes razões: o crescimento industrial, a Universidade e, mais recentemente, a área de serviços.

Claudette Albino
(Fonte: Alternativas - BOLETIM CULTURAL E RECREATIVO DO S.E.U.C. - J. ESTÊVÃO)

A HERANÇA REAL TEM SIDO BEM APROVEITADA PARA PROMOVER SINTRA

A Família Real Portuguesa, seja agora no presente como também no tempo da monarquia, sempre teve uma forte ligação a Sintra, onde reside D. Duarte de Bragança. Assim sendo, Jornal de Sintra entrevistou D. Duarte acerca de questões relacionadas com a sua vivência no concelho.

Jornal de Sintra – Gostaríamos de saber quais os pontos marcantes em que Sintra interveio na história da monarquia portuguesa e como esta viu e vê os sintrenses.

D. Duarte de Bragança – A Família Real Portuguesa sempre gostou de estar em Sintra devido à simpatia dos seus habitantes e à maravilhosa beleza desta vila. Esta herança “real” tem sido bem aproveitada para promover o concelho. Congratulo-me com a Câmara Municipal pelo valoroso esforço de protecção do seu património monumental e paisagístico.

JS – Como habitante no concelho de Sintra, quais são as suas actuais preocupações?

DDB – Infelizmente em tempos anteriores, mas ainda recentes, algumas barbaridades foram cometidas que comprometeram gravemente a beleza da nossa paisagem, nomeadamente a construção desordenada de “caixotes” próximos do Palácio de Queluz e de outros junto ao Palácio da Vila. A autorização para grandes urbanizações no concelho terão trazido recursos financeiros à Câmara Municipal mas transformaram Sintra num concelho dormitório de Lisboa, o que causou imensos problemas. Felizmente os actuais autarcas têm consciência deste problema e determinação para lhe fazer frente, sendo essa a sua maior virtude. Em Sintra é mais importante saber dizer “não” do que fazer muitas coisas frequentemente inúteis, com o dinheiro dos contribuintes, como acontece em muitos outros concelhos.

JS – Quer acrescentar alguma coisa que considere de interesse para os sintrenses?

DDB – A vila de Sintra é hoje Património da Humanidade reconhecido pela Unesco, mas se não soubermos corrigir alguns erros cometidos e impedir outros, podemos facilmente perder esta classificação. Seria importante apoiarmos as actividades dos movimentos cívicos como a Associação de Defesa do Património de Sintra que luta há anos pela salvaguarda da nossa memória e da beleza da nossa terra. Só com muitos associados é que estes movimentos podem ter verdadeira influência. Temos que ser lógicos e coerentes: se gostamos de Sintra temos que contribuir para a sua preservação de todos os modos possíveis. Há evidentemente um outro problema que me preocupa e que é a necessidade de apoiar e integrar social e culturalmente a juventude que cresce em certos bairros chamados sociais e onde se está a desenvolver um espírito de gueto com consequências perigosas para o futuro. As leis portuguesas foram escritas com a preocupação humanitária de proteger os marginalizados mas na verdade acabam por estimular os comportamentos marginais ao desautorizarem a acção da justiça e das forças de segurança. Temos que exigir de quem votamos uma atitude mais justa e inteligente.

David Garcia
(Fonte: Jornal de Sintra)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ENTREVISTA A S.A.R., DOM DUARTE AO NOTÍCIAS MAGAZINE

Suplemento do Jornal de Notícias - Notícias Magazine de 05 de Março de 2006
(Clique nas imagens para ampliar)

(Fonte: Blogue "Família Real Portuguesa")

DEBATE ABERTO «MONARQUIA-REPÚBLICA» NO XII CONGRESSO DA CAUSA REAL EM LISBOA VISTO POR MENDO CASTRO HENRIQUES

XII Congresso da Causa Real, em Lisboa, no Parque das Nações. Um debate aberto e longo entre as 15H30 e as 19H00 sobre Monarquia-República, moderado pela Dr.ª Fátima Campos Ferreira, no formato do “Prós e Contras”. João Soares, Luís Nandim de Carvalho e Manuel Monteiro, na bancada republicana. Gonçalo Ribeiro Teles, José Maltez e eu mesmo na bancada monárquica. Uma assistência de cerca de 150 pessoas enchia o Auditório donde vieram mais de duas dezenas de oportunas intervenções como as de Ferreira do Amaral, Nogueira de Brito, Rui Carp, Lopo Castilho. Além de Dom Duarte, presentes o corpos dirigentes da Causa, presidida por António de Sousa Cardoso. Um debate emotivo com palmas e sem apupos, com muitas sintonias e discordâncias suficientes. Um debate em que ninguém cabeceou, como disse Fátima Campos Ferreira. Um debate que consolidou a ligação entre monarquia e democracia. Mas um debate que não pode ser ainda um virar de página porque não teve qualquer órgão da comunicação social a assistir….

A bancada republicana surpreendeu pela argumentação serena e construtiva – e não terá sido por jogar fora de casa. Apesar de obviamente republicana, concordava com o substancial do novo argumentário monárquico pela democracia. Todos os oradores da bancada confessaram não só a sua pessoal simpatia por Dom Duarte de Bragança, que assistiu aos debates, como o seu reconhecimento da valia e do contributo que Dom Duarte tem prestado à pátria e à democracia portuguesa. De João Soares e de Nandim de Carvalho vieram mesmo sugestões de que deveria evoluir o estatuto da Fundação da Casa de Bragança e a composição do Conselho de Estado para reflectir as prerrogativas do representante dos reis de Portugal.

Agora, argumentos específicos de cada um.

Manuel Monteiro defendeu um regime presidencialista – à americana – com um esvaziamento ou desaparecimento da figura do primeiro ministro. No contexto actual, isso só pode apontar para uma defesa do reforço dos poderes presidenciais e nomeadamente do dr. Cavaco Silva, caso for eleito. Considera direito de qualquer cidadão poder ser eleito chefe de estado. E reforçou o seu capital de simpatia por D. Duarte.

João Soares considera que não devem existir mandatos vitalícios em democracia; nem Câmaras, nem deputados, nem presidentes, e portanto, um rei não seria democrático. Aparte isso, considerou preferível ter dez anos de presidência de Dom Duarte que de Cavaco Silva. Chamou a atenção que Dom Duarte aparecia muitas vezes isolado nos seus combates e que os monárquicos se deveriam organizar, já que notava um revigoramento dos argumentos.

Nandim de Carvalho atacou o “corporativismo partidário”; incitou os monárquicos a ter formações políticas próprias - um partido mesmo, disse ele – que possam disputar lugares através de programas políticos genuinamente monárquicos, nomeadamente nas autarquias apoiando listas de independentes. O seu republicanismo pelo “Presidente de todos os portugueses” também recusa os mandatos vitalícios mas nada lhe custaria viver em monarquia, desde que o povo assim desejasse e houvesse plena tolerância dos republicanos como agora há dos monárquicos

Tudo apurado, os argumentos puramente republicanos contra a chefia monárquica do estado resumem-se a dois: é um mandato vitalício e não está aberto a todos. Por força da experiência portuguesa, evaporaram-se na atmosfera os argumentos habituais sobre as (in)capacidades do rei, sobre o papel de (in)existentes nobrezas, sobre o peso da corte. Nalguns casos, o feitiço virou-se contra o feiticeiro . Os velhos argumentos sobre os gastos com a Casa real e o intervencionismo dos reis, são agora tratados à defesa depois do artigo da revista EXAME de Outubro, demonstrando que cada português gasta 18 vezes mais com o seu PR do que os espanhóis com o seu Juan Carlos.

Na bancada monárquica, todos insistiram que está por inventar o modo de instaurar a monarquia do séc. XXI, em Portugal, através do consenso popular. Uma coisa é existir uma solução histórica que é a instituição real, com as suas tradições; outra coisa é o procedimento actual que permite a um povo escolher democraticamente, com ou sem votos, um representante isento das divisões político-partidárias. Finalmente, todos salientaram que conforme os relatórios da OCDE e do PNUD, são monarquias democráticas a maioria das quais entre os doze países mais desenvolvidos do mundo, em termos de índice de desenvolvimento humano e de produto per capita.

Da assistência veio a ideia força de que um rei tem a vantagem de ser o representante de uma instituição que gera espontâneas manifestações de coesão e de afecto, uma dinastia que no caso português coincide com uma família com a de Dom Duarte de Bragança cujo tronco remonta ao próprio D. Afonso Henriques.

Agora, argumentos específicos.

Gonçalo Ribeiro Teles realçou que a campanha presidencial está dominada por equívocos: 1) Obriga o país a escolher entre um ( ou mais que um) candidato da Esquerda e um candidato da Direita para um lugar que é de Unidade nacional; 2) Debate programas políticos, quando os poderes presidenciais são por natureza alheios aos do governo. Acrescentou que cabe aos monárquicos inventar o modo de instaurar a monarquia do séc. XXI em Portugal. E insistiu, finalmente, que sem comunicação social a divulgar ideias alternativas às predominantemente veiculadas pelos jornais e televisões, não há verdadeira democracia.

José Maltez considerou que tempo era de sementeira de ideias monárquicas, a médio e a longo prazo, a menos que houvesse conversão dos republicanos. Estabeleceu paralelos históricos com a Restauração, com o 5 de Outubro de 1910, com o Estado Novo em que os monárquicos sempre combateram em duas frentes; contra o autoritarismo antidemocrático de 1933, e contra a oposição socialista e comunista. Em todos estes momentos históricos salientou a ideia de Passos Manuel sobre “cercar o trono com instituições republicanas”. Seguindo o pensamento de Barrilaro Ruas, afirmou os monárquicos “aperfeiçoavam a república”. Não eram anti-republicanos, mas sim para além de republicanos, eram monárquicos.

Eu mesmo evidenciei duas tendências políticas de fundo, uma interna, a outra internacional; ambas favorecem o crescimento da instituição monárquica A internacional é de que a processo de integração europeia vem exigir dos estados membros uma partilha dos poderes que o estado republicano não tem maneira de compensar. Mas a solução monárquica oferece uma garantia de independência que não é afectada por desenvolvimentos externos e internos.

A tendência interna é que, com a consolidação do Estado democrático em Portugal pode-se, deve-se e tem-se diminuído os poderes do chefe do estado. Não se justifica a originalidade do “semi-presidencialismo” português; o país deve ter uma única legitimidade democrática por via eleitoral. Os poderes diminuídos do PR abrem o caminho para um chefe de estado real.

Salientei ainda a importância de um debate de ideias como o que opõe monarquia e república, numa fase da democracia em que só os debates economicistas parecem ter direito à comunicação social. É uma herança da má desmarxização dos anos 80 em Portugal, o facto de a ideologia do materialismo económico ter transitado das mãos dos marxistas para a dos liberais, enquanto a utopia da justiça social ficou perdida, para ninguém.

Afirmei que é prematuro debater o modo de transição da república para a monarquia; as circunstâncias futuras ditarão os procedimentos necessários. Segundo as regras da dupla revisão constitucional, é possível fazer do rei o sucessor um presidente. A assembleia pode votar, o país pode referendar, os corpos soberanos podem aclamar o sucessor dos reis de Portugal. A única exigência presente é que a “aclamação” será um procedimento democrático.

No plano histórico, esse sentimento de aclamação verificou-se na restauração de 1640, descrita pelo jornalista internacional da época, o Abade Vertot, como jamais vista no que toca ao extraordinário consenso e unanimidade que permitiu a aparente facilidade com que as guarnições militares e o poder civil dos Habsburgos de Espanha foram expulsos de Portugal. Foi esse mesmo sentido de unanimidade que levou Francisco Velasco de Gouveia a escrever na “Justa Aclamação que “o poder dos reis está no povo”.

Salientei ainda que, sem despesas para o tesouro público, Dom Duarte tem levado a cabo numerosas missões de interesse nacional, tanto junto dos países lusófonos, como das comunidades portuguesas. Internamente tem-se batido por causas cívicas de ordenamento do território, de solidariedade, de património, em que tem ganho a experiência de um chefe de estado real.

(Fonte: Somos Portugueses)