terça-feira, 1 de dezembro de 2009

REPERCUSSÕES DO JANTAR DOS CONJURADOS






Dom Duarte culpa República pelo estado do país, que "está doente"

Discurso sobre 1.º Dezembro serve para tecer duras críticas ao despesismo e às medidas deste Governo

Não poderia ser mais pessimista o discurso que Dom Duarte proferiu ontem, no Convento do Beato, em Lisboa, a propósito do dia que assinala a restauração da independência. "O país está doente" e a culpa é da República, afirmou.

"Adivinham-se tempos difíceis: as instituições do Estado estão fragilizadas; o desemprego aumenta e a pobreza alastra; o sistema educativo tem sido contestado por alunos e professores ; a insegurança, a criminalidade organizada - violenta e económica - e a corrupção, multiplicam-se; o poder judicial está ameaçado por falta de meios materiais e por legislação absolutamente desajustada das realidades", começou por elencar, ontem à noite, o chefe da Casa Real, D. Duarte de Bragança, num jantar anual que visa assinalar o feriado de 1º de Dezembro. "Onde não há Justiça, não há Democracia", sublinhou.

Num discurso pessimista e muitíssimo crítico - quase só as instituições de solidariedade, como as da Cáritas e da AMI, foram poupadas -, D. Duarte de Bragança teceu também considerações sobre a crise internacional, que recusa interpretar como atenuante da situação que o país enfrenta. "Portugal atravessa uma grave crise económica com reflexos políticos e sociais preocupantes. A crise financeira e económica internacional não constitui justificação suficiente para o estado em que se encontra o País: torna-se evidente que, quando esta se desvanecer, a crise estrutural interna permanecerá", observou.

Dom Duarte lançou depois alguns recados ao Governo, alertando-o para o perigo de estar a hipotecar o futuro com medidas erradas e, sobretudo, com despesismo. "Torna-se imperioso que o Estado colabore melhor com as organizações de voluntários que generosamente trabalham para resolver os problemas, em vez de desperdiçar recursos e prejudicar o que temos e fazemos de bem. Tudo o que o Estado gasta é pago por nós ou será pago pelos nossos filhos".

O chefe da Casa Real não chegou a responsabilizar directamente este Governo pela situação do país, mas não se inibiu de culpar a forma de Governo: a República. "Não duvido que uma Chefia de Estado independente dos poderes políticos e económicos, livre de pressões, respeitadora das instituições e defensora do seu correcto funcionamento, alheia a querelas partidárias e a favoritismos, preocupada com o longo prazo e não com imediatismos influenciados por calendários eleitorais é o complemento fundamental que a Monarquia pode oferecer a um Estado moderno", apontou a solução, para depois lançar um repto: "Chegou o tempo de os portugueses pensarem com coragem e em consciência se, o que se entende por República, não seria melhor servida por um Rei?".

Para o herdeiro do trono português, "chegou a hora de acordar as consciências e reunir vontades para levantar Portugal, combatendo a mentira, o desânimo, a resignação e o desinteresse", algo que, de acordo com o seu discurso, estará na mudança de regime.

D. Duarte levantou ainda o véu de um discurso futuro, outra vez crítico, que deverá ter em breve. "Numa época conturbada como a que se vive hoje em Portugal, prepara-se, com grande despesismo, a comemoração, em 2010, do centenário da República", criticou, avisando que irá debruçar-se depois em pormenor sobre o caso.

Finalmente, o chefe da Casa Real apelou à união dos portugueses, "autoridades e políticos, autarcas eleitos, empresários, agricultores, que ponham as suas capacidades ao serviço de Portugal."

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