domingo, 25 de setembro de 2011

AFONSO BOTELHO (04.02.1919 - 20.09.1996)

DA RESTAURAÇÃO (extracto)

(Ultima intervenção política de Afonso Botelho)
No que diz respeito a estesentido do poder absoluto, também a República nos confundiu noutro equívoco,transformando em impulso emocional a divergência histórica entre miguelistas eliberais. Para tanto, amputou a essa dramática oposição nacional os principaisvalores que nela estiveram em jogo. Na realidade, a mais profunda causa dodesencontro histórico não residia na absoluta ou limitada acção governativa doRei, mas na manutenção ou rejeição de uma ampla ideia tradicional da origem do podere da genuinidade dos costumes e privilégios dos povos.
 
Era esse afinal o absolutismo queo senhor Dom Miguel representava e que nasceu inseparável e unido aoCristianismo ocidental na sua raiz autêntica, inspiradora da lei fundamental doReino. Nesse sentido se elege ainda hoje a aspiração primeira dotradicionalista de restaurar o poder e, digamo-lo claramente, a obrigaçãoprioritária do monárquico de restaurar o regime, que, em seu profundoconvencimento, é o único apto a fazê-lo.
 
Tomo esta obrigação, meus ilustrese estimados Companheiros, não por uma abstracta dedução lógica, mas por umarazão existencial: tomo-a com a urgência das situações terminais, porqueterminal me parece o ânimo dos portugueses em relação à própria necessidade dopoder político, a cujos esgotamento e aviltado exercício assistem revoltados.
 
Não creio que seja indispensávelinvocar mais uma vez a conclusão daqueles politólogos americanos que denunciamprecisamente como sinais do termo da forma democrática vigente, todos os gravíssimosproblemas que a insanável oposição entre liberdade e igualdade criou.
 
Em Portugal, neste momento, jánem é a perversão do poder que nos provoca, mas a sua quase total inexistência.E a reacção a esta ausência cada dia se manifesta de uma forma mais clara ealarmante, posto que esse significado não nos seja perceptível como verdadeirarealidade.
 
Efectivamente, a acçãodegenerescente prolifera em actos que ainda não possuem a força que desencadeiaa revolução sangrenta, nem a concentração do golpe político, mas que denuncia aangústia ameaçadora da sociedade que, impedida de se representar num poderaprisionado pelo sistema, chama a si a sua força e as suas competências, sesubstitui a ele, ocupa-o, partilha-o à margem da lei. Existimos realmente naordem e na estabilidade equívocas, que se processam entre uma partilhaindefinida do poder e um Estado que, para subsistir, sobrepõe ao poder aomnipotência (na observação subtil de um comentador político).
Hoje, o nosso ponto de partida énecessariamente reflexivo de início, mas logo devém operativo, de tal modo senos revela urgente restaurar o poder.
 
Como cidadãos ainda teremos decumprir as leis da cidade, porém sob reserva, porque nem a cidade dos nossosdias é idêntica à polis grega, nem a lei vigente merece o sacrifício da vida deSócrates. Mas, como monárquicos, não dispomos outra vez de clima social epolítico para protelar ou secundarizar a restauração da Monarquia.
 
Perante o que afirmamos ser,redescobrir e restaurar o poder genuíno é finalidade que não podetranquilizar-se na normalidade democrática, nem ceder aos seus apelosemolientes.
 
Em relação à sua força decaptura, tal como prisioneiro de guerra, o monárquico tem por dever prioritáriorecuperar a liberdade, que, para o seu código de honra, antes de ser de sipróprio, o é dos destinos da Pátria.
7 de Outubro de 1995, no encontro anual da Liga Popular Monárquica, em Guimarães"Da Restauração", in Boletim da Liga Popular Monárquica,série F, nº 16, Outubro-Dezembro de 1995, pp. 9-11 e também in ConsciênciaNacional, nº 187, Janeiro-Outubro de 1995, pp. 1, 3. 
 
Reproduzido em http://www.angelfire.com/pq/unica/il_1995_afonso_botelho.htm apartir de Gonçalo Sampaio e Mello, "Afonso Botelho, Legitimista"...., pp. 249-253.
 

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