UMA CHULA PARA O CONDESTÁVEL NOS 626 ANOS DA VITÓRIA DE ALJUBARROTA
«Em Aljubarrota não havia melhoria do campo que os portugueses
tivessem escolhido, nem vales que estorvassem seus contrários, como
alguns mal escrevendo em seus livros querem contar, que tudo era campina
igual, sem nenhum estorvo a ambos as partes.
E sendo a batalha cada vez maior e muito ferida de ambas as partes,
prouve a Deus que a bandeira de Castela foi derrubada. Alguns castelãos
começaram a voltar atrás. Os moços portugueses começaram a bradar em
altas vozes:- Já fogem! Já fogem!E os castelãos, por não fazerem deles mentirosos, começaram vez de fugir mais.E
porém tanta mortandade faziam neles os dos termo de Alcobaça e dos
lugares em redor, especialmente nos que a pé fugiam, como os que
morreram na batalha, privando-os de vida porque a nenhum perdoava a
morte.Um rústico aldeão prendia e matava sete castelãos e oito e
dez e não tinham poder de lho contradizer. E se algum trabalhava de dar a
vida a alguém que conhecesse, quer fosse castelão ou português dos que
contra o reino vinham, não o podia fazer que nas mãos lho matavam por
força, ainda que não quisesse, não somente a homens de pequena condição
mas a pessoas de boa conta.»
Fernão Lopes em Crónica de El-Rei D. João I.
Foi na tarde de 14 de Agosto de 1385 que se travou a célebre batalha de
Aljubarrota. A importância de uma tão estrondosa vitória das hostes
portuguesas conduziu praticamente de imediato à mitificação do feito e à
santificação do seu principal arauto e responsável, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira,
que seria beatificado apenas em 23 de Janeiro de 1918 sendo,
posteriormente, canonizado a 26 de Abril de 2009, passando a ser também
conhecido por S. Nuno de Santa Maria.
Visto como a Estrela da Manhã, Nuno Álvares Pereira foi de facto um
portador de Luz, iluminando e protegendo o caminho do Portugal futuro, a
nascer da obra, força e têmpera do povo português. Adorado e amado pelo
povo, foi em vida fiel a Deus, à Pátria e ao Rei. Regendo-se pelos
códigos de cavalaria, manteve-se sempre pronto a ajudar o próximo, bem
como a entregar o seu peito à armas inimigas, num caso claro de
imensurável bravura, apenas superada pela sua bondade e fidelidade.
Numa data tão importante como esta de hoje, em que se assinalam os 626
anos de Aljubarrota, cabe-nos a nós recordar os verdadeiros heróis.
Aqueles que pela paixão e pelo amor a um Deus, uma Pátria e um ideal,
entregaram as suas vidas, vertendo o seu próprio sangue e suor,
permitindo à História cantar ao sabor de todos os ventos o romance da
nossa mais autêntica liberdade. Assim, em sinal de reconhecimento pelos
feitos de um dos nossos maiores heróis, partilhamos hoje mais um tema do
álbum Histórias de Portugal do grupo Maio Moço, intitulado Chula do Condestável.
Com uma letra adaptada a partir de alguns textos do séc. XV, este tema
recupera a chula, uma das danças mais antigas e representativas danças
portuguesas, já referenciada pelo mestre Gil Vicente num dos seus famosos autos.
A D. Nuno Álvares Pereira e aos heróis de 1385.
Chula do Condestável
Nosso grande Condestável,
Dom Nuno Álvares Pereira,
Defendeu a Portugal
Com seu pendão e bandeira
Levando a sua vanguarda
Nos campos de Aljubarrota,
Com sua cota e braçal
Os castelhanos derrota.
Perseguindo os inimigos,
Badajoz foi conquistar;
Entrando na sua torre
Seu pendão fez levantar.
E nos campos de Valverde
Os castelhanos venceu;
Com sua hoste e esquadrão
Portugal engrandeceu.
Nosso grande Condestável,
Dom Nuno Álvares Pereira,
Foi na batalha real
A mais singular bandeira.
Capitão mui valoroso,
E por tal mui conhecido,
Foi sempre vitorioso,
Dos inimigos temido.
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