CARTA DO INFANTE DOM MANUEL À SUA EXTREMOSA AIA A EXMA. SRA. D. CARLOTA CAMPOS
Paço de Vila Viçosa
2 de Março 1895
2 de Março 1895
Minha querida Dama
Se está melhor e se anda bem nas muletas. Tenho umas pedras lindas, uma parece estar cheia de diamantes, outra tem prata e outra que brilha muito e parece ter ferro. Dóe um dente à Calita? Fomos hoje dar um grande passeio, com a Maria de Menezes e a Carlota. Vimos rios, rios e lagos, fomos pela estrada do Alandroal.
Faz-me muita falta a Daminha, e tenho pena que esteja doente. No passeio lembrei-me que havia de escrever à Daminha.
Um verso.
Um boneco de papelão.
Vai ao malão.
E acha um melão.
Sonetos, petas.
Tenho estado asim, assim.
Mas agora vou estar melhor, foi o conselho que o mano me deu. Tenho uma pedra para dar à Dama. A Patrocínio, teve muita pena de não vir. Daminha, o Marcô não morreu. O mano cortou as cartas espanholas dêle. Temos um vinho óptimo branco de Vila Viçosa. Agora tenho pouca conta na idea. Vi um rebanho de ovelhas, fui ter com êle, o que havia eu fazer, ó Daminha? Fui ter com êle. Todas as pedras, todas têm cristal.
Adeus Daminha, até àmanhã, que lhe vou escrever.
Seu amiguíssimo
D.Manuel
Do livro: O Rei Saudade, de José Dias Sanches
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