DE SALAZAR A SÓCRATES
Vivemos a mesma vida desde há mais de 100 anos. Nada mudou na nossa natureza, enquanto povo, e na nossa organização económica. A forma como pensamos o papel e o funcionamento do Estado, como concebemos o trabalho, os deveres e as obrigações e como nos organizamos social e economicamente diz muito do que somos e explica, em grande medida, o momento que estamos a viver.
Temos vivido com os mesmos vícios, os mesmos gastos, as mesmas despesas e as mesmas vaidades. Queremos viver e ser um País rico, quando somos pobres e quando mal produzimos o que comemos. Uma sociedade fraca e que reclama só direitos e regalias, com uma economia débil e que não produz, algum dia tinha que rebentar. Nunca tivemos um Estado forte, disciplinado e responsável. Nunca tivemos uma economia e uma organização social e política capaz e respeitada. Enquanto houve o “pote de dinheiro”, gastou-se, sem limites e sem regras. Nunca tivemos lideranças políticas que fossem competentes e um exemplo de virtudes, nem um povo trabalhador que olhasse mais para o colectivo do que para o individual. O hedonismo é a sua marca indelével. Nunca tivemos uma cultura e uma mentalidade que pusesse em primeiro lugar, o interesse nacional. Nunca tivemos estruturas sindicais que apelassem para os desígnios nacionais.
Como são possíveis, em plena crise e numa situação de pré-bancarrota, greves nos sectores dos transportes, com empresas públicas deste sector com milhares de euros de prejuízo ? Nunca nenhum gestor público foi responsabilizado por gestão ruinosa, apesar de ganharem fortunas por mês. Vejam o escândalo que se está a passar com o Metro do Porto. Se somos assim, o resultado só podia ser este. Somos uma sociedade com uma carga de interesses corporativos que ultrapassa o razoável, impeditiva, por vezes, do desenvolvimento. Estado pobre e sem alicerces, com uma sociedade civil colonizada e socio-dependente e com líderes sem prestígio e sem qualidade só podia dar nisto. E, agora, começa a dança irresponsável de ninguém querer recorrer à ajuda financeira externa. Mais uma vez os interesses políticos e partidários a sobreporem-se ao interesse nacional. Nem para salvarem o País este senhores conseguem estar de acordo, apesar de terem consciência do mal que fizeram. De Cavaco a Sócrates, do PS ao PSD, ninguém escapa ao julgamento e a um veredicto de culpabilidade.
A saúde não funciona (ontem estive no Hospital de Santa Maria, com um irmão nas urgências, entrámos às 8h da noite e saímos às 3h da manhã). O ensino está no caos, perdeu qualidade, está sem orientação e à deriva. A justiça é injusta, morosa e desrespeitada. Já poucos acreditam na sua imparcialidade e isenção. A crise de confiança que existe entre nós e nas instituições é mais grave do que a falta de dinheiro. Dinheiro pede-se emprestado. A confiança ninguém empresta. Ou mudamos de vida ou morremos. Nem os quase 900 anos de história nos salvam. Tínhamos a obrigação de sermos melhores.
Rui Rangel | Correio da Manhã | 07.04.2011
Publicado por Rui Monteiro em "Causa Monárquica"
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