sábado, 26 de março de 2011

JORNAL A GUARDA: O REGRESSO DA BANDEIRA AZUL E BRANCA

Opaís fica realmente dividido em dois: a norte do rio Vouga a bandeirade Portugal é azul e branca e o regime é monárquico. A sul a bandeira éverde-rubra e o regime é republicano. É o período da história conhecidocom Monarquia do Norte ou o Reino da Traulitânia. Em 1919 foram apenasvinte e cinco dias de restauro parcial da monarquia.

O general Paiva Couceiro, militar que se destacou na defesa damonarquia durante a revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, foium dos poucos monárquicos que não se conformou com a implantação darepública. Exilou-se na Galiza, com outros monárquicos e, a partirdali, procurou combater o regime republicano pelas armas.

A partir de Espanha organizou um exército, embora pequeno, pararestaurar a monarquia em Portugal. Pretendia a realização de umplebiscito popular e a restauração da Carta Constitucional de 1826 eassim mostrar que existia uma alternativa monárquica para Portugal.

Fez várias incursões no país. A primeira foi exactamente um ano após aimplantação da república. Teve um impacto e significado simbólicos poislimitou-se a conseguir hastear a bandeira azul e branca em Vinhais. Asegunda deu-se em 1912, já teve mais resultados pois o exércitomonárquico penetrou em Valença, Vila Verde e Chaves. Seguem-se algunslevantamentos populares em Cabeceira de Bastos, Celorico de Bastos,Fafe e Vieira do Minho. Não obstante, as forças republicanasneutralizam a incursão, que assim termina com a fuga dos monarquistaspara Espanha.

Uma terceira tentativa seria mais marcante. No ano de 1919, PaivaCouceiro volta a invadir o norte do país, chegando ao Porto. Nestacidade, a Junta Militar do Norte proclama a monarquia no dia 19 deJaneiro. A bandeira azul e branca é hasteada, após uma parada militar ecanta-se o Hino da Carta Constitucional (O hino monárquico). Os chefesdesta restauração são Luís de Magalhães, Sollari Allegro, Conde deAzevedo, Visconde do Banho e o Coronel Silva Ramos. A Junta Governativado Reino, junto ao Governo Civil do Porto, ficou sob o comando deHenrique Mitchell de Paiva Couceiro. Quase todas as cidades do norteaderem à causa real, com a excepção de Chaves.

Mesmo na capital, a Junta Militar quer aderir ao movimento iniciado anorte, mas não se obtém unanimidade. Em Lisboa vai ter algumaimportância o movimento “Integralismo Lusitano”. Alguns dos seusmembros aderem à causa e resolvem tomar o posto TSF de Monsanto paraestabelecer contacto com o norte e assim coordenar a luta. A revoltaeclode no dia 22 de Janeiro. Sob o comando de Aires de Ornelas, umgrupo de algumas dezenas de militares hasteia a bandeira monárquica noForte de Monsanto. Os republicanos reagem com rapidez e eficácia.Graças ao seu número e apoio rapidamente conseguem a capitulação dosmonárquicos. No entanto, a revolta no país só terminou no dia 13 deFevereiro, com a entrada dos exércitos republicanos no Porto.

O país fica realmente dividido em dois: a norte do rio Vouga a bandeirade Portugal é azul e branca e o regime é monárquico. A sul a bandeira éverde-rubra e o regime é republicano. É o período da história conhecidocom Monarquia do Norte ou o Reino da Traulitânia. Foram apenas vinte ecinco dias de restauro parcial da monarquia, mas repletos de violênciae terror, sobretudo da parte dos monárquicos, que aproveitaram para“ajustes de contas” e retaliações pessoais. Este foi o motivo porque operíodo foi denominado de Reino da Traulitânia.

O regresso da bandeira azul e branca falhou principalmente por doismotivos: não contou com o apoio do rei D. Manuel II, que se encontravaexilado em Inglaterra, e não obteve o reconhecimento essencial depaíses como a Inglaterra e a Espanha.

Como consequência muitos oficiais foram afastados ou demitidos doexército, ficando Afonso Costa no domínio da política portuguesa.

Os defensores da monarquia foram os que mais sofreram com o rescaldo dogolpe. Verificam-se divisões entre os apoiantes de D. Manuel II, muitosdos quais consideram que o movimento foram feito à revelia do rei. O“Integralismo Lusitano” enviou uma delegação à Inglaterra para analisarestratégias para a futura luta monárquica. Voltam desiludidos com arecepção do rei e juntam-se à causa do reconhecimento de D. Duarte Nunode Bragança, neto de D. Miguel I, como legítimo herdeiro do tronoportuguês.

Nos mais de cem anos de República, foi a mais forte tentativa para restaurar a monarquia em Portugal.

 
Publicado por Rui Monteiro no blogue "Causa Monárquica"

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