15 DE OUTUBRO DE 1942, PETRÓPOLIS (BRASIL): CASAMENTO DE S.A.R. O SENHOR DOM DUARTE NUNO DE BRAGANÇA COM A PRINCESA DONA MARIA FRANCISCA AMÉLIA VITÓRIA TERESA ISABEL DE ORLEANS E BRAGANÇA
Casamento precedido do Casamento Civil realizado na Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro a 13 de Outubro
O chefe da Casa Real Portuguesa, neto de El- Rei D. Miguel. une-se a uma Princesa da Casa Imperial Brasileira, trineta do Imperador D. Pedro I. Este é um casamento que liga dois ramos da mesma família, separados há mais de um século. Duas Casas Reais divididas pelo Atlântico e pela história voltam a ter laços comuns. Ratifica-se um volte-face histórico, unindo as Casas Real de Portugal e Imperial do Brasil, após uma cisão separatista e uma terrível e sangrenta guerra civil.
Para melhor sublinhar os sinais de pacificação, a senhora D. Maria Francisca convida para sua madrinha a Rainha D. Amélia de Orleans e Bragança, a última sobrevivente da linha constitucional da Casa Real portuguesa. Fotógrafo: n/i! 338x170 mm l CEN
Os senhores Duques de Bragança, no seu cortejo nupcial, percorrem a nave da Igreja Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, próximo da cidade de Rio de Janeiro.
O casamento torna-se um acontecimento público e uma enorme multidão congestiona todo o exterior do templo, cuja primeira pedra fora colocada em 1876 pelo Imperador D. Pedro II, bisavô da noiva.
«E chegou o dia da cerimónia nupcial. Não conseguiu a chuva que abundantemente caiu, afastar os milhares de curiosos que desde pela manhã haviam tomado posição junto da Catedral e nas ruas que a circundam. Esta multidão aclamou entusiasticamente os Príncipes. A igreja apresentava um aspecto deslumbrante de luzes e de flores. Pendentes das duas colunas centrais que sustentam a abside, dois formosos painéis com as armas reais de Portugal e as armas imperiais brasileiras, Ao som de uma marcha nupcial o cortejo deu entrada no templo aonde se encontravam as individualidades de maior categoria do país irmão e da nossa colónia no Brasil. À frente o Eng.° José Cortês atrás do qual seguiam o Conde de Pombeiro, o Dr. Américo de Oliveira e Castro, o Conde da Covilhã, o Dr. Manuel Mota Maia, Sebatião de Carvalho Daun e Lorena (Pombal), o Dr. Orlando Guerreiro de Castro, Luís de Albuquerque d'Orey e o Dr. Mário Cardoso de Miranda.
Um pouco distanciados seguiam o Conde de Castro e o Barão de Saavedra e o Conselheiro Camelo Lampreia,
Finalmente a Princesa noiva que dava o braço a seu irmão, o Príncipe D. Pedro de Orleães e Bragança; o Senhor D. Duarte, que conduzia a Princesa D. Isabel, mãe da noiva, e a Senhora Infanta D. Filipa de Bragança, que tinha como braceiro o Príncipe D. João de Orleães, irmão da noiva; depois vinha a Princesa D. Teresa Maria de Orleães, irmã da noiva, que dava o braço ao Conde de Almada e Avranches. Fechavam o cortejo a Baronesa de Saavedra e D. Maria Luísa Maia Monteiro. Serviu de caudatário, o coronel Cândido Torres Guimarães.
Na capela-mor, tomaram os Noivos lugar sob um rico docel encimado pela Coroa Real Portuguesa, ficando os restantes Príncipes em cadeiras colocadas ao lado do Evangelho e junto do trono episcopal. Ao lado esquerdo, no cruzeiro, encontravam-se a esposa do Presidente Vargas, a esposa do Ministro das Relações Exteriores, Dr. Oswaldo Aranha, o Ministro Salgado Filho e os Prefeitos do Rio-de-Janeiro, Dr. Henrique Dodsworíh, e de Petrópolis, D.r. Mário Melo Franco.
Na tribuna do corpo diplomático tomaram lugar o Núncio de Sua Santidade, Mons. Aloísio Masella, o Embaixador dos E. U. A., Jefferson Caffery, a Embaixatriz de Inglaterra, Lady Grace Charles, o Embaixador do Peru, Jorge Prado, a Embaixatriz de Portugal, D. Alexandra Nobre de Melo, o Ministro da França, Conde de Saint-Quentin, o Ministro do Canadá, Jean Dery, o Ministro da Dinamarca, V. de Janestead, o Ministro da Suécia, Weidal, o Ministro da Polónia, Tadeu Showrouski, etc.
Foi celebrante, no impedimento do Cardeal Leme já acometido da doença que o havia de vitimar, o Bispo de Niterói, D. José Pereira Alves, acolitado pelo Arcipreste de Petrópolis, Mons, Francisco Gentil Costa e pelo Prior da Ermida Portuguesa de Nossa Senhora da Penha, Mons. Alves da Rocha,Comovidamente, o ilustre Prelado, depois de abençoar os Régios Noivos, dirigiu lhes estas palavras:
«Quisestes apenas uma festa íntima, mas essa festa resultou muito mais ampla do que numa união, num acto de fraternidade de duas estirpes ilustres, porque tocou os sentimentos fraternais de nossas duas pátrias.
Construístes um reino que é o mais feliz de todos — o da vossa família. Um reino de perpétua e humana ventura.
Já tivestes a bênção do nosso Santíssimo Padre, o Papa Pio XII. A bênção do Santo Padre será a garantia da vossa felicidade perpétua».
Com efeito, na véspera do seu casamento, o Duque de Bragança recebera este telegrama :
«Sua Alteza Real o Príncipe Duarte Duque de Bragança — Petrópolis.
Na ocasião do próximo casamento de Vossa Alteza Real com sua Alteza Maria Francisca de Orleães Bragança Sua Santidade envia-vos de todo o coração a bênção apostólica implorando a graça da protecção divina para o vosso lar
Cardeal Maglione»
Finda a cerimónia teve lugar uma recepção de gala no Palácio do Grão-Pará, tendo todos os convidados desfilado perante os Duques de Bragança, para assim apresentarem aos Augustos Noivos, as suas homenagens e felicitações. Depois desta recepção foi servido um lauto banquete, a que se seguiu a assinatura da acta da cerimónia que é do teor seguinte :
«Aos quinze dias do mes de Outubro do ano da graça de mil e novecentos e quarenta e dois, às onze e meia horas, na Igreja Catedral de São Pedro de Alcântara, nesta cidade de Petrópolis, depois de habilitados canonicamente, por palavras de presente na forma ritual, em presença do Eminentíssimo Senhor Cardeal Arcebispo Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra e de transmitida a bênção apostólica aos Augustos Nubentes, enviada pelo nosso Santíssimo Padre gloriosamente reinante, perante Deus receberem em matrimónio Sua Alteza Real o Príncipe Senhor D. Duarte Nuno Fernando Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco Xavier Raimundo António, Duque de Bragança, bailio e Grã-Cruz da Ordem Soberana de Malta, e Sua Alteza Imperial e Real a Princesa D. Maria Francisca Amélia Luísa Vitória Teresa Elisabeth de Orleães e Bragança; Ele português, com trinta e cinco anos de idade, nascido e baptizado no Castelo de Seebenstein a vinte e três de Setembro de mil novecentos e sete, filho legítimo de Sua Alteza Real o Duque D. Miguel de Bragança e de Sua Alteza Real a Princesa Dona Teresa de Lowenstein-Werthein-Rosemberg, Duquesa de Bragrança; Ela, brasileira, com vinte e oito anos de idade, nascida e baptizada no Castelo de Eu a 8 de Setembro de 1914, filha legítima de Sua Alteza Imperial e Real o Píncipe do Grão-Pará, Senhor D. Pedro de Alcântara Luís Filipe de Orleães e Bragança e de Sua Alteza Imperial e Real a Princesa D. Elisabeth de Orleães e Bragança.
Logo após o casamentp, Sua Excelência Reverendíssima o Senhor D. José Pereira Alves, bispo diocesano, celebrou a missa «.Pró Sponso et Sponsa» recebendo Suas Altezas Reais as bênçãos nupciais e dirigindo-se após á Capela imperial, onde oraram perante os túmulos de Suas Majestades o Imperador e a Imperatriz,
Foram padrinhos, por parte do Augusto Noivo, Sua Alteza Real o Infante Dom Juan Carlos Teresa Silvedo Afonso de Bourbon, Príncipe das Astúrias, bailio e Grã-Cruz da Ordem soberana de Malta, Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro, representado por Sua Excelência o Senhor D. Lourenço de Jesus Maria José Vaz de Almada, 4.° Conde de Almada e 16.° Conde de Abranches, e Sua Alteza Real a Senhora D. Filipa de Bragança, Infanta de Portugal; por parte da Augusta Noiva, Sua Majestade a Rainha viúva de Portugal, a Senhora D. Amélia, nascida Princesa de França, representada pelo antigo ministro de Sua Majestade Fidelíssima, Sua Excelência o Senhor Conselheiro João de Sá Camelo Lampreia, e Sua Alteza Real o Príncipe Henrique Roberto Ferdinando Maria de Orleães, Conde de Paris, representado por Sua Alteza Imperial e Real o Príncipe D. João Maria Filipe Gabriel de Orleães e Bragança.
E, para constar, eu, Monsenhor Francisco Gentil Costa, arcipreste, lavrei este termo que vai assinado pelo Reverendíssimo Prelado e Augustas Pessoas presentes e subscrito em três vias que serão arquivadas no arquivo paroquial, no arquivo da Casa Imperial e no arquivo da Casa de Bragança, sendo a segunda via entregue em mão de Sua Excelência o Senhor Coronel Cândido Torres Guimarães que nas cerimónias serviu de camarista de Sua Alteza Imperial Nubente, e a terceira a Sua Excelência o Senhor João António Gomes de Castro, 4.° Conde de Castro, que nas mesmas cerimónias serviu de camarista de Sua Alteza Real Nubente».
Esta memorável viagem ao Brasil, terminou a 28 de Outubro, data em que os Duques de Bragança, abandonaram a cidade brasileira do Natal, a mesma encantadora cidade que alguns meses antes tinha recebido tão gentilmente o Senhor D. Duarte.»
("O Duque de Bragança", Manuel Bettencourt e Galvão)
Foto do noivado
(fonte: http://www.realistas.org/forumv3/viewtopic.php%20f=56&t=347&sid=2d91499b8c50c5451db3707fffdf5920 e monarquiaportuguesa.com)
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