25 DE ABRIL. MATARAM O SONHO.
Mataram o sonho
36 anos depois
Cantaram-se hinos à liberdade,
Firmes promessas de igualdade,
Em que o Povo acreditou.
Encheram-se as ruas de alegria,
A única coisa que se ouvia,
Era que a ditadura acabou.
Foi um Abril de esperança,
Uma época de mudança.
E os acusados de traidores,
Que desde logo apareceram,
Em voz alta, prometeram,
Mudanças ainda maiores.
Quiseram esses novos senhores,
Impor-nos outros valores
Trazidos de uma terra fria,
Aquela era a sua oportunidade,
E em nome da liberdade,
Esqueceram o que o povo queria.
Apareceram então outros senhores,
Que falavam como salvadores,
Da vontade popular.
Prometeram dar voz ao povo,
E o que aconteceu de novo,
Foi que o povo voltou a errar.
Votou o povo em vendedores,
Que foram novos traidores,
Em que muitos acreditaram.
Património vendido e desperdiçado,
Um risco na história e no passado.
País sem rumo foi o que deixaram.
Com liberdade e pouco mais.
Começa o tempo dos ideais,
Mas pobre era a imaginação,
Todos falavam igual.
O socialismo era afinal,
Para todos a única solução.
Ficou apenas a democracia.
Mas como ideais, já não havia…
Que democracia podíamos ter?
Partidos que mais não são,
Espelhos da desmedida ambição,
ambição de riqueza e de poder.
É justo referir a excepção,
De generosos com ilusão,
Que não podemos esquecer.
Determinados e apaixonados,
Homens bem preparados,
Que acabaram por morrer.
Mas o que no fim ficou,
E o que mais a todos marcou,
Não foi nunca a qualidade.
Sacrificaram-se os inteligentes
Crucificaram-se os crentes.
Favoreceu-se a mediocridade.
Sem uma única boa referência,
Este país de longa existência,
Perdeu a sua identidade.
É hoje apenas uma região
Vivendo como pedinte e em ilusão,
Do país, nem sequer à saudade.
E o povo que em Abril vibrou,
Que generosamente acreditou,
Está incrédulo e desorientado.
Tem um Estado que o despreza,
Que o empurra para a pobreza,
Triste povo que está cansado.
A História o povo já não conhece
Sem uma identidade, padece,
Triste povo, que foi risonho.
De onde saiu a inteligência,
Pior ainda, a decência,
Que matou todo um sonho.
José J. Lima Monteiro Andrade
(Fonte: Blogue "Desafio de Mudança")
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