sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TEXTOS EM DEFESA DA LÍNGUA (1) - LUIS DE ALMEIDA BRAGA

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braga,_l._a..htm
...Nada melhor que a Arte conserva eennobrece a Tradição. A indústria, o comércio, a lavoura tornam a vida maisfácil, mas é a sciência, a arte e a literatura que lhe dão beleza e lhe dãoencanto.
 
...A literatura é a clara linguagemda alma da Pátria, a embaladora voz que a entretem e canta. Por isso o melhorescritor é aquele que mais enternecidamente e mais profundamente sabe mostrar-sehomem da sua raça.
 
Para lá da vontade dos govêrnos,e da mesma sorte que as leis e as guerras, são as estátuas, os monumentos, as crónicase os poemas que formam as nações. 
 
...Se o povo que um dia cair escravosouber conservar o amor da sua língua, consigo terá sempre guardado o segrêdoda sua liberdade, - promete o verso célebre de Mistral. Ainda há ignorantes ou irreflectidos que julgam ser os poetas, na vida do país, simples ornamento. Para êsses, temforos de verdade o paradoxo de Platão, e a sentença de Aristóteles - a Poesia émais profunda e mais filosófica do que a História — não a entendem sequer. Oraum poeta como Camões, animador e mantenedor do espírito nacional, é para agente da sua fala elemento essencial do banquete da vida, pão de puro fermento,que a admiração e a reflexão multiplicam. A sua obra, tal uma fôrça da naturezaagindo inteligentemente, a pouco e pouco produz, em tôdas as ordens dopensamento e através das mais altas ondas de incertezas e dificuldades, profundase benéficas transformações.
 
Eu não sei de melhor formador dehomens, nem conheço mais certo guia de acção que o poeta vivíssimo de Os Lusíadas. A leitura dêsse poema éestímulo constante aos mais nobres cometimentos da vida. Para a gente da nossalíngua e do nosso sangue, Os Lusíadasnão são lugar de paz ou de meditação filosófica: são escola de todas as energiasque se chamam audácia, vontade, amor; numa só palavra – são uma lição de vida estrénua.
 
Não é o silêncio das coisasmortas que ao ler os versos de Camões invade a nossa alma; é o clangor épico deuma trombeta de guerra que a atravessa, e nos deslumbra e chama. Vinde ouvi-lotambém , lusíadas novos, meus amigos e meus irmãos!

Uma geração que vá educar-se aocalor das rimas camoneanas, vejo-a eu já heróica, forte, bela, máscula, palpitantede tôdas as energias primitivas da terra. 
Extracto de Conferência realizada na Faculdade de Direito de São Paulo (Brasil)
Luis de Almeida Braga in Paixão e Graça da Terra, 1932, Livraria Civilização

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