quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PLANO DE EL REI D. MANUEL II E ALFREDO MONTEVERDE DO PSP




Venceslau de Lima seria um estimado e distinto palaciano, seria uma
pessoa de ideias convenientes, mas era um político de acanhada visão.
Não compreendeu o alcance do plano que o jovem rei e o Alfredo
Monteverde urdiam. D. Manuel era, talvez, demasiado novo para que
Venceslau de Lima evidenciasse pelo assunto um interesse mais vivo que a
atenção condescendente da sua carta de 16 de Junho:




“Falei também com o Monteverde. Eu já tenho alguns entendimentos com o
operariado por intermédio dum companheiro de Gneco; mas julgo difícil
que alguma cousa de praticamente útil por esse lado se consiga.




O político palaciano era um homem prático e, por isso mesmo, descria e considerava difícil.




De Junho de 1909 a Setembro de 1910, os documentos encontrados nos
palácios reais após a proclamação da República falam-nos do interesse do
rei pela captação e organização do movimento operário socialista.
Alfredo Monteverde aproxima-se dos operários do Arsenal e envia a D.
Manuel uma relação das suas reivindicações. Em Setembro de 1909 envia a
D. Manuel a tese Construção de Casas Económicas por Iniciativa
Particular, de que era autor Azedo Gneco e a qual o Congresso Nacional
Operário aprovara por unanimidade.”



A 7 de Outubro de 1909 principia assim uma carta para o soberano:




“Meu Senhor. — Venho agradecer reconhecidíssimo o seu bilhete e a
carta que Vossa Majestade houve por bem enviar-me e o interesse que
Vossa Majestade continua a tomar pelos seus operários.




Nesta carta afirma a feição monárquica, a integração na orgânica social
vigente, do Partido Socialista e denuncia a índole anarquista do
Congresso Sindicalista, que considerava influenciado pelos republicanos.
Em Fevereiro de 1910 dá notícias ao rei de uma reunião com o
conselheiro Soares Branco e o conde de Penha Garcia, onde se tratou de
assuntos referentes ao movimento operário, e a boa nova de que um jovem
doutorando pretendia defender uma tese do Direito Operário, o que
mostrava que o interesse pela questão chegava à Universidade, que
«deveria caminhar na frente do grande movimento de renovação intelectual
e política que se prepara».




Em Agosto de 1910 encontramos Monteverde num grande desânimo. O
Ministério chefiado pelo progressista Beirão prodigalizara-lhe provas de
desinteresse e má vontade. A portaria do inquérito ao trabalho nacional
devia-se exclusivamente ao empenho e diligência do rei. O seu prestígio
junto das massas operárias empalidecera, pelo insucesso dos seus
esforços e pelo sucesso de Azedo Gneco, que, numa entrevista com o
presidente do Conselho, Teixeira de Sousa, obtivera a Portaria de 12 de
Julho de 1910, que criou a Comissão de Trabalho, na qual tinham assento
três delegados das classes trabalhadoras. Por outro lado, os
republicanos aproximavam-se dos socialistas. Nas vésperas da «revolução»
sentiam a necessidade de consolidar as suas forças estabelecendo
ligações e alianças. A burguesia liberal, que lhe fizera uma guerra de
morte (vide carta de D. Manuel de Bragança a Venceslau de Lima atrás
citada e as declarações de fontes socialistas, designadamente de Azedo Gneco), estendia agora a
mão ao partido da classe operária para marchar reforçada à conquista do
poder.




Agostinho Fortes procurara Azedo Gneco. «Suponho que o Agostinho Fortes e
o seu imaginário partido não são mais do que a rede lançada pelos
republicanos para pescar os socialistas», escrevia o dirigente
socialista, a 15 de Agosto, a Alfredo Monteverde.




Monte verde e o jovem rei trataram de obter, pelo Ministério das Obras
Públicas, passes nos Caminhos-de-Ferro do Estado para os delegados
operários da Comissão do Trabalho; auxílio monetário, ou por encomendas
de trabalhos, para o Instituto das Artes Gráficas, pequena tipografia da
Rua das Pretas, onde se imprimiam jornais e folhetos socialistas; e
gratificações para os três delegados operários da Comissão do Trabalho.
Deste último ponto trata a carta de Azedo Gneco a Monteverde, por este
remetida a D. Manuel de Bragança, que transcrevemos na integra:




“Meu caro Alfredo Monteverde. – Dentro da organização, chamada legal,
dos serviços públicos não encontro meio de serem gratificados os
membros operários da Comissão do Trabalho, porque constituem um caso
extraordinário que nenhuma lei prevê. Mas dois desses membros têm a seus
cargos importantes estudos. Um deles, L. Batalha, cuida da criação do
Instituto do Trabalho, que deve ser uma Direcção-Geral, mas apenas deste
assunto; o outro, que sou eu, tem na sua frente não só os estudos do
primeiro, como centro de toda a acção futura da legislação do trabalho,
como toda essa legislação a condensar num código, o que me parece ser
muito para fazer nas horas vagas, precisando ganhar o pão de cada dia.
Agora, por exemplo, estou trabalhando no que respeita a acidentes do trabalho, tenho que ajudar
L.Batalha, que condensar a legislação estrangeira, que comprar um monte
de livros, etc, e, por cima de tudo isto, que pensar e tratar da minha
vida. Mas para casos extraordinários só providências extraordinárias,
enquanto tudo não entra na normalidade. E daqui não é possivel sair,
segundo penso. Amigo dedicado, Azedo Gneco.-19 de Setembro de 1910.”



Fonte Análise Social, Fernando Piteira Santos




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