DOM DUARTE DE BRAGANÇA, EM RESPOSTA A UMA PERGUNTA SOBRE O NOSSO FUTURO NA EUROPA
1- É fundamental sabermos que Europa queremos para o futuro, se uma Europa dos políticos europeus e dos seus pequenos interesses a curto prazo ou se uma Europa em que os Europeus e os Portugueses em particular, possam exprimir as suas grandes preocupações e ser ouvidos? Outro caminho complementar será associarmo-nos com outros Países da nossa dimensão (que tenham problemas parecidos). Se nós cooperássemos mais intimamente a nível político por exemplo com a Irlanda, Holanda, e Países Escandinavos poderíamos ter nas Instituições Europeias um peso mais significativo.
2- Há Nações europeias muito antigas, como a Basca, a Catalã, a Galega, a Cigana, etc., que não têm independência política e no entanto preservam uma forte identidade cultural. A perda da nossa identidade cultural é um fenómeno que vem sucedendo mas por razões internas e culpa nossa: por exemplo, a destruição da nossa paisagem arquitectónica (pela total falta de critérios e pela especulação imobiliária), a perda dos valores éticos e espirituais da nossa sociedade, a escandalosa maneira como a nossa História não é ensinada por razões políticas e ideológicas, a destruição da nossa vida rural, são algumas dessas causas.
3- Corremos o risco de sofrer com a deslocalização de algumas empresas Portuguesas e a concorrência de países com salários mais baixos e mão-de-obra mais qualificada. Infelizmente, os apoios da pré-adesão à União Europeia foram desperdiçados com projectos megalómanos de país rico. Uma dúzia de estádios de futebol e auto-estradas (não me refiro às indispensáveis vias rápidas IP), despesas governamentais e municipais de luxo, etc., mostram que a loucura continua. Entretanto, não investimos a sério nos campos da educação e formação profissional, na modernização da administração e da justiça, na saúde preventiva, etc.. Apeteceria pedir contas aos responsáveis que nos atiraram para esta situação sem sequer consultar o Povo Português por meio de alguns referendos. A adesão à moeda dos europeus mais ricos e competitivos tornou a situação ainda mais difícil…
No entanto, a partir de agora deveríamos estabelecer um consenso nacional quanto às nossas prioridades e aos caminhos para lá chegar, com a participação de todas as Instituições representativas do Povo Português, desde os Partidos políticos e os Sindicatos até às Universidades e outras Instituições e Associações. A adesão à chamada Constituição Europeia será talvez a decisão mais grave de todas e não pode ser tomada sem um amplo debate e uma consulta ao Povo que ainda é soberano…
Estes defeitos da nossa política são simbolizados pelo regime republicano em que as perspectivas têm em geral um horizonte muito curto que se limita às próximas eleições legislativas. Ora nós recebemos Portugal de empréstimo, para o entregarmos aos nossos filhos, e não temos o direito de o vender a outros em troca de alguns benefícios económicos. Devemos estudar a vida de D. Nuno Álvares Pereira, que se confrontou com uma situação muito parecida com a actual.
(In O Diabo, Outubro 2004)
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