TEXTOS DE FERNANDO PESSOA (III)
«Vem o Sr. Afonso Costa… Aquilo é que é uma besta! (…)
É daqueles homens a quem o epíteto ilustre anda sempre atado como uma lata ao rabo dum cão, a pertencer-lhe, tanto como a lata ao cão pertence.
(…) Resta um ponto, e este, quero frisá-lo claramente, para que nenhuma dúvida reste. A minha carta terminava com as frases, que na Capital foram transcritas, sobre o desastre acontecido ao chefe do partido cognominado democrático. Apontou V. Ex.ª à execração pública o autor de semelhante trecho, desapiedado e mau. Peço encarecidamente a V. Ex.ª que me deixe vincar bem o quanto eu, longe de retirar essas frases, mais convictamente e mais ardentemente as apoio e as vinco. O chefe do partido democrático não merece a consideração devida a qualquer vulgar membro da humanidade. Ele colocou-se fora das condições em que se pode ter piedade ou compaixão pelos homens. A sua acção através da sociedade portuguesa tem sido a dum ciclone, devastando, estragando, perturbando tudo, com a diferença, a favor do ciclone, que o ciclone, ao contrário de Costa, não emporcalha e enlameia. Para o responsável máximo do estado de anarquia, de desolação, e de tristeza em que jazem as almas portuguesas, para o sinistro chefe de regimentos de assassinos e de ladrões, não pode haver compaixão que os combatentes leais merecem, que aos homens vulgares é devida. Costa nem sequer tem o relevo intelectual que doure a sua torpeza. A sua figura é a dum sapo que misteriosamente se tornasse fera. Pode ter-se compaixão por aqueles por quem se tem ódio. É impossível a compaixão por aqueles que não podem deixar de inspirar ódio e nojo, conjuntamente. Por isso eu quero frizar – e sei que ao frizá-lo estão comigo os votos de grande número dos portugueses, dos católicos oprimidos, das classes médias atacadas, dos cidadãos pacíficos assaltados nas ruas, de todos aqueles que o General Pimenta de Castro representava – que só não se regozija, no desastre acontecido a Costa, a circunstância, que infelizmente se parece confirmar, do seu restabelecimento. Esse homem – esse homem sem relevo espiritual, sem nobreza de carácter, que nunca teve uma ideia elevada, um gesto generoso, um movimento de ternura – esse homem não pertence ao número daqueles por quem nós podemos sentir humanamente.
Não podendo (Afonso Costa) fazer mais nada, é homem para mandar assassinar. Tudo depende do seu grau de indignação.»
É daqueles homens a quem o epíteto ilustre anda sempre atado como uma lata ao rabo dum cão, a pertencer-lhe, tanto como a lata ao cão pertence.
(…) Resta um ponto, e este, quero frisá-lo claramente, para que nenhuma dúvida reste. A minha carta terminava com as frases, que na Capital foram transcritas, sobre o desastre acontecido ao chefe do partido cognominado democrático. Apontou V. Ex.ª à execração pública o autor de semelhante trecho, desapiedado e mau. Peço encarecidamente a V. Ex.ª que me deixe vincar bem o quanto eu, longe de retirar essas frases, mais convictamente e mais ardentemente as apoio e as vinco. O chefe do partido democrático não merece a consideração devida a qualquer vulgar membro da humanidade. Ele colocou-se fora das condições em que se pode ter piedade ou compaixão pelos homens. A sua acção através da sociedade portuguesa tem sido a dum ciclone, devastando, estragando, perturbando tudo, com a diferença, a favor do ciclone, que o ciclone, ao contrário de Costa, não emporcalha e enlameia. Para o responsável máximo do estado de anarquia, de desolação, e de tristeza em que jazem as almas portuguesas, para o sinistro chefe de regimentos de assassinos e de ladrões, não pode haver compaixão que os combatentes leais merecem, que aos homens vulgares é devida. Costa nem sequer tem o relevo intelectual que doure a sua torpeza. A sua figura é a dum sapo que misteriosamente se tornasse fera. Pode ter-se compaixão por aqueles por quem se tem ódio. É impossível a compaixão por aqueles que não podem deixar de inspirar ódio e nojo, conjuntamente. Por isso eu quero frizar – e sei que ao frizá-lo estão comigo os votos de grande número dos portugueses, dos católicos oprimidos, das classes médias atacadas, dos cidadãos pacíficos assaltados nas ruas, de todos aqueles que o General Pimenta de Castro representava – que só não se regozija, no desastre acontecido a Costa, a circunstância, que infelizmente se parece confirmar, do seu restabelecimento. Esse homem – esse homem sem relevo espiritual, sem nobreza de carácter, que nunca teve uma ideia elevada, um gesto generoso, um movimento de ternura – esse homem não pertence ao número daqueles por quem nós podemos sentir humanamente.
Não podendo (Afonso Costa) fazer mais nada, é homem para mandar assassinar. Tudo depende do seu grau de indignação.»
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