sábado, 1 de janeiro de 2011

Portugal 2011

Vivemos numa profunda crise de valores, substituídos agora pelo conceito de mais-valias, sobretudo económicas. Faltam as verdades profundamente inspiradoras, os caminhos que ocupam a vontade, as lutas que fazem valer uma vida. Não há ninguém que arrisque verdadeiramente algo em troca de um bem superior, pelo menos sem haver alguma contrapartida palpável. Vejo muita gente a servir-se do país, mas ninguém a servi-lo. A ideia de amor a Portugal apenas desagua em fervores desportivos e o patriotismo é um ideal troçado e ostracizado.

A nossa luta, pessoal e diária, não pode ser por uma série de causas difusas e dispersas, não podemos encher o nosso espírito e a nossa vontade de transformar o mundo com o vazio de iniciativas avulsas que não têm direcção nem sentido. É preciso congregar, unir e juntar, construir um ideal universal e duradouro. Claro que temos o direito de nos indignarmos e lutarmos contra os problemas da nossa sociedade, tais como o estado calamitoso da nossa economia, a ingerência dos dinheiros públicos, a primazia dos grupos de interesse nas grandes decisões nacionais, o tráfico de influências, a corrupção e tantos outras questões que fazem a ordem do dia na internet, blogues e redes sociais. Mas também aqui há um crescente e preocupante intensificação de lobbies que tentam controlar as discussões e a direcção do pensamento.

Recordo algumas lutas do recente século vinte, desde os ódios fratricidas da primeira guerra mundial até à luta pela liberdade e democracia na segunda, todos aqueles que se sacrificaram contra os opressores e aqueles que queriam tomar o poder pela força. E pergunto-me quantas revoluções serão precisas para as gentes do novo milénio entenderem que estão a ser novamente subjugadas como numa ditadura. Há novos poderes oligárquicos que se concentram, envenenam as oportunidades, acumulando riqueza e poderes. E num país pequeno como o nosso, têm acima de tudo medo de perdê-los para o vizinho do lado. E assim somos, cada vez mais, uma sociedade e um país à deriva.

É preciso reflectirmos e começarmos a pensar seriamente nisto.

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