DILMA, LULA E O DUQUE DE BRAGANÇA
Conhecendo-se a decadência do actual regime português - que fora das nossas fronteiras, é evidente para todos -, não me causa qualquer espanto esta reacção do Partido de Lula e de Dilma. Apenas desde já deixo bem claro ao Manuel Rezende, que tenho a convicção absoluta da impossibilidade de qualquer condescendência do Duque de Bragança para com qualquer desvario comunista ou afim e faça-nos a justiça de não nos considerar a todos como tolos que querem "tudo pela Monarquia, mesmo que a da Dilma". No entanto, a política tem aspectos que a nós, míseros leitores de jornais, revistas e blogues, nos são completamente vedados. Se o Duque de Bragança tomou uma atitude, esta foi deveras ponderada, como tem sido o seu hábito ao longo de décadas.
Nem sequer me dando ao trabalho de enumerar os clamorosos erros e indecências da "direita brasileira" - conhece o Manuel a "direita brasileira" e tem a consciência daquilo que significa como desleixo, insensatez, roubo e escabrosa ignorância? - e do seu apego ao modismo importado do pior que os EUA têm para oferecer, limitei-me a reproduzir os dois comunicados. Um, refere-se à natural reacção do Duque de Bragança, obrigado como sempre, a responder ao que se passa em qualquer um dos países da CPLP. O nosso colega Manuel Pinto Rezende, decerto preferiria que o Senhor D. Duarte de Bragança nem sequer aparecesse em Luanda, Maputo ou Bissau, dada a natureza dos regimes que por lá vingam. Bem pelo contrário, aparece e representa sempre a cooperação portuguesa que importa, pois actua junto de quem precisa e não dos círculos de "negócios da alta" que por cá, são tão agradáveis a Belém e a S. Bento. A acção régia incide principalmente nas zonas rurais, onde faltam as ferramentas que proporcionam o alimento a arrancar da terra, nas escolas onde para nosso bem o português se vai afirmando e nos postos médicos que debelam doenças endémicas. Para que isso aconteça, o Rei precisa de um normal relacionamento com as autoridades reconhecidas, isto é, com aquilo que normalmente se designa por Estado. Cumpre afinal, o papel que no Reino Unido é reservado a Isabel II, reconhecida chefe da pujante Commonwealth britânica. De facto, não consta existir qualquer problema nas protocolares mensagens de congratulação que a soberana envia a Islamabade, Pretória, Acra, Nova Deli, Campala, Nairobi, etc.
O caso brasileiro é mais notório, dado aquilo que o país representa. A primeira questão que o Manuel podia colocar, decerto referir-se-ia ao porquê da ascensão de Lula da Silva, do PT e de todos os seus aliados? Sendo o Brasil um país incomensuravelmente mais importante do que qualquer Cuba, Bolívia ou Venezuela, como se explica então este episódio esquerdista? Como foi possível ter aquele país enveredado por um galopante processo de industrialização, acumulação de riqueza e progresso científico, ao mesmo tempo em que se assistiu a uma clamorosa dicotomia na distribuição de rendimentos e pauperização extrema de uma vastíssima camada da população? Porque fugiram tantos para a Europa e América e isto, muito antes de Lula ter chegado ao Palácio do Planalto? Pior ainda, o arrogante novo-riquismo de uma ínfima minoria, atirou um impressionante número de pessoas para os centros urbanos, provocando o caos, a guetização social e claro está, o crime quase institucionalizado como normal modo de vida. Onde esteve então, essa "direita dos valores", sempre disposta a alçar a cruz como exemplo? A isto, acrescente-se ainda a verdadeira outorga de armas ideológicas - pois é disso mesmo que trata - aos mais radicais esquerdistas, fazendo proliferar dissidências na Igreja Católica. O surgimento de ridículas seitas protestantes - como muito bem diz o nosso amigo Carlos Velasco, são mais novas que qualquer garrafa de whisky de qualidade média - e de "padres revolucionários", teologias de "libertação" e outros bem conhecidos apêndices da subversão, não foi por mero capricho ou maquinação satânica. Que se note bem a palavra subversão, para que não haja qualquer má interpretação - intencional ou não - daquilo que digo. É sobejamente conhecido o percurso político de Dilma Rousseff e as amizades perigosas que há mais de um quarto de século cultivou. Conhece-se o sistema de controlo apertado do aparelho estatal que o PT praticamente tomou de assalto e que indicia algo de muito preocupante e que tão bem se distingue aqui mesmo, em Portugal.
O Brasil não é a Venezuela. Qualquer deriva no sentido que o Manuel teme, ou seja, o comunismo, decerto terá uma pronta resposta interna. Disso pode ter a certeza. Essa resposta não caberá apenas às Forças Armadas, mas também à "direita sociológica" e não hesito em afirmar, a uma grande parte do próprio eleitorado de Lula/Dilma. A verdade é que justa ou injustamente, a melhoria das condições de vida de muita gente, aconteceu durante estes últimos anos, no seguimento de um processo de saneamento iniciado muito antes, mas que apenas se tornou sensível no mandato de Lula da Silva. Há ainda que notar, nada existir que indique uma forte deriva comunista nas intenções da política externa brasileira, antes pelo contrário. Os mercados e o capitalismo bolsista estão encantados, os vendedores de armas Made in France também. A reacção dos famigerados mercados é bem o exemplo desta realidade. É evidente a sede de protagonismo, um tanto ou quanto barroco, dos agentes de Brasília pretenderem fazer figura de "grande potência", embora disso ainda longe estejam. Também é certa, a contemporização com os evidentes abusos do chamado MST e o perigo da sua transformação num exército émulo das FARC. Este é talvez, o primeiro problema a colocar-se ao próprio governo do PT, ameaçando-o de ser "ultrapassado" pelos auto-denominados "queimadores de etapas". Mas isso coloca em risco a segurança do próprio sistema de que o PT - uma espécie tentacular de PS local - é hoje, o principal beneficiário.
Os próximos meses demonstrarão quais os caminhos que o governo Dilma - ou melhor, Lula - trilhará. Aguardemos.
Nuno Castelo Branco no Blogue "Estado Sentido"
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