sexta-feira, 6 de agosto de 2010

QUEM QUER SER ESPANHOL? (Novembro 2006)

Numa recente sondagem, 27% dos portugueses estariam aparentemente de acordo com uma absorção de Portugal por Espanha. Tal resultado, porventura ainda mal explicado, deixa contudo interrogações e preocupações.

O que terá levado os inquiridos a aceitar a absorção do nosso País pelo poderoso vizinho? Será uma procura de melhor qualidade de vida, indo ao ponto de abdicar de nacionalidade própria? Será que concluem não sermos capazes de nos governar, abrindo caminho para outros o fazerem, desde que para tal revelem mérito sem importar a nacionalidade? Será que questionam o actual regime, admitindo alternativas que incluem a aceitação de um Rei não Português?

Creio que haverá de tudo um pouco, até porque a insatisfação convida à procura de soluções, muitas vezes de forma incondicional.

Muitos portugueses sonham com uma Espanha tentadora na sua prosperidade, com um regime que tem no Rei o símbolo da sua unidade.

Ao mérito dos que tornaram possível o nível de desenvolvimento atingido junta-se a habilidade da Família Real em servir Espanha, aproximando-se de todos os espanhóis. A figura do Rei é inquestionável, de rara capacidade na relação humana, e o carinho pela Família Real é claramente visível até em Portugal. Tudo isto, e as nossas muitas insatisfações, poderão tornar apetecível para alguns, esse caminho.

Mas sê-lo-á?

A experiência histórica, normalmente boa conselheira, já nos fez rejeitar tal solução, após anos iniciados na esperança e terminados na angústia. Os tempos são distintos, a Europa tende a unir-se na diversidade cultural, mas seremos mais felizes se entregarmos o comando ou a representação do que é nosso, a quem não se sente como nós? E, nesse caso, porque não contratar para ministros, alemães, japoneses ou irlandeses com provas dadas? Não será prudente escutar os bascos, catalães e os nossos irmãos galegos para conhecer o que pensam da experiência secular de ter castelhanos a mandar nas suas terras? E que dizer de um estudo recente, na América do Sul onde se afirma que a cota de popularidade dos espanhóis é inversamente proporcional à importância dos seus investimentos nos respectivos países?

Admiro profundamente o espírito dos povos de Espanha e tenho grande amizade e admiração pela sua Família Real e, muito em particular, pelo seu Rei. Sempre defendi uma aproximação alargada e constante entre as nossas nações, desde que dela resultem vantagens mútuas.

Acredito na utilidade da intensificação da cooperação em diversos campos, económico, científico, militar, segurança. No que respeita ao ambiente é de importância vital para nós.

Isto nem sempre tem sido fácil, e por responsabilidades mútuas. Por exemplo, as águas do Guadiana que chegam à barragem do Alqueva no Verão vêm tão poluídas que a sua utilização para a irrigação levanta problemas complicados; as frotas pesqueiras dos nossos vizinhos continuam a destruir as nossas reservas marinhas, de forma aparentemente silenciosa e impune; as resistências no mercado espanhol a produtos e serviços portugueses afastam-se da cooperação tão apregoada e tão pouco concretizada.

A nível político teórico parece correr tudo no melhor dos mundos, mas a outros níveis será que se caminha tão bem?

“Música no Coração”

Sem querer comparar situações, aconselho o “musical” que fui ver recentemente, encenado com muita graça e qualidade por Filipe La Féria.

É particularmente impressionante ver como muitos austríacos passaram a apoiar a absorção da sua pátria pelo poderoso país vizinho enquanto que outros se sacrificaram até ao limite pela sua independência.

A publicação da tal sondagem causou estranheza e espanto no país vizinho, onde os mais sensatos acham que seria preferível resolverem os problemas que já têm com os movimentos independentistas actuais...

Mas certos políticos e empresários de lá e de cá pensam que pode ter chegado a altura de realizar um projecto secular...

Não podemos esquecer que esse projecto de união ou federação ibérica já estava nos objectivos de alguns dos responsáveis pelo golpe militar de 5 de Outubro de 1910, que impuseram uma bandeira em que o vermelho representa Espanha e o verde Portugal. Por isso, é que a parte em vermelho é maior do que a verde (ou haverá mais “sangue” do que “esperança”?). No modelo original aparecia um losango verde dentro do rectângulo vermelho. Felizmente, o patriotismo de muitos republicanos conseguiu manter, senão as cores azul e branca como tinha sido decidido em 1910 pela comissão responsável pela nova bandeira, pelo menos o escudo nacional.

Recentemente, um grupo de profissionais de imagem lançou a ideia de que a Bandeira Nacional deveria ter as actuais armas sobre um fundo azul, simbolizando o mar das nossas praias e os oceanos das nossas Descobertas. Deste modo, a bandeira deixaria de transmitir a actual imagem um tanto folclórica de país do terceiro mundo e, simultaneamente, seria lançada a imagem de que Portugal não é “um país do Sul” para ser “o país do Ocidente da Europa”...

O sangue de todos os que combateram e morreram sob a bandeira verde e encarnada faz com que esta já mereça o nosso respeito, a par de todas as bandeiras que Portugal teve desde o começo da nacionalidade. Mas agora que, finalmente, nos seus provectos 96 anos a República Portuguesa já é finalmente uma democracia adulta, deveríamos poder discutir em liberdade que bandeira poderá melhor representar a nossa Pátria.

Quanto a mim, gostei desta proposta.

Dom Duarte de Bragança
(Fonte: Casa Real Portuguesa)

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