HISTÓRIA DA DR.ª CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO
A morte precoce de uma lutadora graças à injustiça dos seus correligionários republicanos
A História fazem-na os vencedores e, geralmente, à custa da ignorância e passividade dos vencidos – se estes deixarem!
Foi uma má escolha, a da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR), quando se decidiu pelo nome e percurso de vida da Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo.
Não é com o recurso manhoso a um hipotético álbum de fotografias atestando o ideal Republicano, que os “contadores de histórias” oficiais, apagam ou se redimem de factos, dos quais se deveriam envergonhar.
Não porque a personagem tenha desmérito. Mas porque a sua morte prematura, com apenas 33 anos, se deveu aos actos dos seus pares republicanos e porque foi uma morte vã, pois os seus ideais foram de seguida pervertidos.
Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira médica que operou em Portugal. Cedo se mostrou inconformada com a situação de subalternidade das mulheres na sociedade portuguesa. A necessidade de juntar, para a mesma luta, as poucas mulheres formadas (algumas médicas, entre as quais a Dr.ª Emília Patacho) levou-a escolher como instrumentos de trabalho várias agremiações.
Victoriosa a República, continua a Dr.ª Carolina a prestar-lhe um serviço inestimável, desdobrando-se em actividades republicanas, num esforço inglório.
Incansável, tenta pressionar os novos poderes para a obtenção de direitos para as mulheres – é a aprovação da lei do Divórcio; a necessidade da igualdade dos salários entre homens e mulheres; e trava uma luta pessoal pelo direito ao voto.
A República tenta negar-lhe esse direito. Apela para juízo. A sentença desta vez e sem exemplo, é-lhe favorável (28 de Abril de 1911). Valeu-lhe o facto do juiz afortunadamente, ser, além de justo, pai de uma sua correligionária e amiga.
Eis o considerando final da sentença:
“..excluindo a mulher….só por ser mulher é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as ideias da democracia e justiça proclamadas pelo partido republicano…”
Votou nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, de 28 de Maio, tornando-se a primeira mulher a exercer o direito de voto em Portugal.
Em Julho e Agosto queixa-se de extremo cansaço, “tenho trabalhado muito”… da sua luta, dos dias inteiros a discutir, a pensar…
Morre de síncope cardíaca em 3 de Outubro de 1911.
Deixa, como testemunhos para a posteridade duras críticas à República e aos republicanos “A não ser o nosso Afonso Costa o resto não vale dois caracóis” …
Sobre Manuel de Arriaga primeiro Presidente da República refere: “saímos de lá furiosas e com imensa tristeza” pelos comentários proferidos acerca das mulheres, concluindo que “quando numa visita tão banal o homem fez assim uma péssima figura calcule-se o que será em coisas que requerem raciocínio e bom senso!”
A República, no ano seguinte altera a lei do voto e as mulheres terão de esperar até 1931…
ESTE É O TESTEMUNHO QUE DEVE SER RELEMBRADO NESTAS COMEMORAÇÕES
ESTA É A VERDADE HISTÓRICA QUEIRAM OU NÃO QUEIRAM
Isabel da Veiga Cabral
(Fonte: Real Associação do Médio Tejo)
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