UMA VERGONHA
Mal vai uma Nação, quando os seus governantes, por ingratidão desmedida, descuram e até ignoram aqueles que abnegadamente deram os melhores anos de suas vidas ao serviço da Pátria, quantas vezes colocando em risco a sua integridade física e em última análise a sua própria vida.
Deixo aqui um excelente texto de um militar, o Coronel (Ref.) Vitor Santos, que é um grito de indignação para com a atitude de ingratidão dos governantes em relação aos militares portugueses, entre os quais modestamente me incluo.
Bem-haja
Luiz Andrino
UMA VERGONHA
Especialistas ingleses e norte-americanos estudaram comparativamente o esforço das Nações envolvidas em vários conflitos em simultâneo, principalmente no que respeita à gestão desses mesmos conflitos, nos campos da logística geral, do pessoal, das economias que os suportam e dos resultados obtidos. Assim, chegaram à conclusão que em todo o Mundo só havia 2 Países que mantiveram 3 Teatros de Operações em simultâneo: a poderosa Grã-Bretanha, com frentes na Malásia (a 9.300 km de 1948 a 1960), no Quénia (a 5.700 Km de 1952 a 1956) e em Chipre (a 3.000 Km de 1.954 a 1959); o pequenino Portugal, com frentes na Guiné (a 3.406 Km), Angola (a 7.300 Km) e Moçambique (a 10.300 Km) de 1961 a 1974 (13 anos seguidos).
Estes especialistas chegaram à conclusão que Portugal, dadas as premissas económicas, as dificuldades Logísticas para abastecer as três frentes, bem como a sua distância, a vastidão dos territórios em causa e a enormidade das suas fronteiras, foi aquele que melhores resultados obteve. Consideraram por último, que as performances obtidas por Portugal, se devem sobretudo à capacidade de adaptação e sofrimento dos seus recursos humanos e à sobrecarga que foi possível exigir a um grupo reduzido de quadros dos 3 Ramos das Forças Armadas, comissão atrás de comissão, com intervalos exíguos de recuperação física e psicológica. Isto são observadores internacionais a afirmá-lo. Conheci em Lisboa oficiais americanos com duas comissões no Vietname. Só que ambos com 3 meses em cada comissão intervalados por períodos de descanso de outros 3 meses no Hawai. Todos os que serviram a Pátria e principalmente as gerações de Oficiais, Sargentos e Praças dos três Ramos das Forças Armadas que serviram durante 13 anos na Guerra do Ultramar, nos três Teatros de Operações, só pelo facto de aguentarem este esforço sobre-humano que se reflecte necessariamente em debilidades de saúde precoces, mazelas para toda a vida, invalidez total ou parcial, e morte, tudo ao serviço da Pátria, merecem o reconhecimento da Nação, que jamais lhes foi dado.
Em todo o Mundo civilizado e não só, em Países Ricos cidadãos protagonistas dos grandes conflitos e catástrofes com eles relacionados, vencedores ou vencidos, receberam e recebem por parte dos seus Governos, tratamentos diferenciados do comum dos cidadãos, sobretudo nos capítulos sociais da assistência na doença, na educação, na velhices e na morte, como preito de homenagem da Nação àqueles que lutaram pela Pátria, com exposição da própria vida. Todos os que vestiram a farda da Grã-Bretanha, França, Rússia, Alemanha, Itália e Japão têm tratamento diferenciado. Idem para a Polónia e Europa de leste, bem como para os Brasileiros que constituíram o Corpo Expedicionário destacado na Europa. Idem para os Malaios, Australianos, Filipinos, Neo-zelandeses e soldados profissionais indianos.
Nos EUA a sua poderosíssima "Veteran’s War” não depende de nenhum Secretário de Estado, nem do Congresso, depende directamente do Presidente dos EUA, com quem despacha quinzenalmente. Esta prerrogativa referendada por toda uma Nação, permite que todos aqueles que deram a vida pela Pátria repousem em cemitérios espalhados por todo o Mundo, duma grandiosidade, beleza e arranjo ímpares, ou todos aqueles que a serviram, tenham assistência médica e medicamentosa para eles e família, condições especiais de acesso às Universidades, bolsas de estudo, e outros benefícios sociais durante toda a vida. Esta excepção que o povo americano concedeu a este tipo de cidadãos é motivo de orgulho de todos os americanos. O tratamento privilegiado que todo Mundo concedeu aos cidadãos que serviram a Pátria em combates onde a mesma esteve representada, é sufragado por leis normalmente votadas por unanimidade. Também os civis que ficaram sujeitos aos bombardeamentos, quer em Inglaterra, quer em Dresden, quer em Hiroshima e Nagasaki têm tratamento diferenciado. Conheço de perto o Irão. Até o lrão dá tratamento autónomo e específico aos cidadãos que combateram na recente Guerra Irão / Iraque, onde morreram 1 milhão dê iranianos. Até Países da África terceiro-mundista e subdesenvolvida como o Quénia, atribuiu aos “ex-maus-maus” esquemas de protecção social diferentes dos outros cidadãos.
Em todo o Mundo menos em Portugal. No meu País, os Talhões de Combatentes dos vários cemitérios estão abandonados, as centenas de cemitérios espalhados pela Guiné, Angola, Moçambique, índia e Timor, abandonados estão e quando não profanados. É simplesmente confrangedor ver o estado de degradação onde se chegou. Parece que a única coisa que está apresentável é o monumento do Bom Sucesso / Torre de Belém, possivelmente porque está à vista e porque é limpo uma vez por ano para a cerimónia pública que lá se realiza. Até grande parte dos monumentos municipais aos Mortos da Guerra do Ultramar vão ficando abandonados. No meu Pais, a pouco e pouco, foi-se retirando a dignidade devida aos que combateram pela Pátria, abandonando os seus mortos e retirando as poucas "migalhas" que ainda tinham diferentes do comum dos cidadãos, a assistência médica e medicamentosa, para ele e cônjuge, alinhando-os "devidamente" por baixo.
ATÉ NISTO CONSEGUIMOS SER DIFERENTES DE TODOS OS OUTROS.
No meu Pais, os políticos confundem dum modo ignorante ou acintoso, militares com polícias e funcionários públicos (sem desprimor para as profissões de polícias e funcionários públicos, bem entendido). Por ignorância ou leviandade os políticos permanentemente esquecem que o estatuto dos militares não lhes permite nem o direito de manifestação nem de associação sindical além de ser o único que obriga o cidadão a dar a vida pela Pátria. Até na 1ª República, onde grassava a indisciplina generalizada, a falta de autoridade, o parlamentarismo balofo, as permanentes dificuldades financeiras e as constantes crises económicas, não foram esquecidos todos aqueles que foram mandados combater pela Pátria na 1ª Guerra Mundial (1914-18), decisão política muito difícil mas patriótica, pois tinha a ver com a defesa estratégica das possessões ultramarinas. Foram escassos 18 meses o tempo que durou a guerra para os portugueses, mas todos aqueles que foram mobilizados, e honraram Portugal, tiveram medidas de apoio social suplementares diferentes de todos os outros cidadãos portugueses, além de uma recepção ímpar por todo o Governo da Nação em ambiente de Grande Festividade Nacional. Naquela altura os políticos portugueses dignificaram a sua função e daqueles que combateram pela Pária. Foram criados Talhões de Combatentes em vários cemitérios públicos, à custa e manutenção do Estado, foram construídos monumentos grandiosos em memória dos que deram a vida pela Pátria, foi concebido um Panteão Nacional para o Soldado Desconhecido na Sala do Capitulo do Mosteiro da Batalha com Guarda de Honra permanente 24 sobre 24 horas, foram criadas pensões especiais para os mutilados, doentes e gaseados, foram criadas condições especiais de assistência médica e medicamentosa para os militares e famílias nos Hospitais Militares, numa altura em que ainda não havia assistência social generalizada como há hoje, foi criado um Lar especifico para acolher a terceira idade destes militares em Runa (é importante relembrar que em 1918 se decidiu receber e tratar os jovens, com 20 anos em 1918, quando estes tivessem mais de 65 anos de idade), e por ultimo foi criada a liga dos Combatentes que de certo modo corporizava todo este apoio especial aos combatentes, diferente de todos os outros cidadãos e era o seu porta-voz junto das instâncias governamentais uma espécie de "Veteran’s War" à portuguesa. Foi toda uma Nação, com os políticos à frente, que deu tudo o que tinha àqueles que combateram pela Pátria, apesar da situação económica desesperada e de quase bancarrota. Na altura seguimos naturalmente o exemplo das demais Nações.
Agora somos os únicos que não seguem os exemplos generalizados do tratamento diferenciado aos que serviram a Pátria em combate.
É SIMPLESMENTE UMA VERGONHA.
Haveria muito mais para dizer para chamar a atenção deste Ministro da Defesa e deste Primeiro-Ministro, ambos possivelmente com carências de referências desta índole nos meios onde se costumam movimentar, sobretudo no que respeita à comparação dos vencimentos, regalias económicas dos que expuseram ou deram a vida pela Pátria e aqueles que antes pelo contrário, sempre fugiram a essa obrigação.
Vítor Santos
Coronel Reformado
4 Comissões de Serviço no Ultramar
10 Anos de Trópicos
Deficiente das Forças Armadas por doença adquirida e agravada em Campanha
Quase 70 anos de idade
Sem acumulação de cargos
Sem Seguro de Saúde pago pelo Estado ou EP
Sem direito a Subsídio de Reinserção
Sem cartão de crédito dourado sem limite de despesas a expensas do Estado
Sem filhos empregados no Estado por conhecimentos pessoais
Sem o direito a reformas precoces de deputado ou autarca
Sem reformas precoces e escandalosas estilo Banco de Portugal ou CGD
Sem contratos que prevêem indemnizações chorudas
Sem direito a ficar com os carros de borla e que o Estado pagou em leasing
Sem fazer contratos de avenças chorudos como as que se fazem com Gabinetes de advogados e economistas
Sem Pensão de Reforma acima do ordenado do Presidente da República
Com Filhos desempregados
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